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terça-feira, 23 de julho de 2013

Capítulo 2: Tesouros na Terra

Nenhum Homem Conhece a Minha História: A Vida de Joseph Smith (Nova Iorque: Vintage Books, 1995) de Fawn M. Brodie (1915-1981), pp. 16-33.

Capítulo 2: Tesouros na Terra


O percurso que levou Joseph Smith para a carreira de "profeta, vidente e revelador" está repleto de um emaranhado de lenda e contradição. Relatos mórmones e não-mórmones parecem estar em conflito em muitos pontos. Os documentos não-mórmones que chegam a mencioná-lo -- um antigo registo de tribunal e relatos de jornal -- indicam que Joseph reflectia a independência religiosa do seu pai. As arengas dos pregadores revivalistas parecem ter suscitado nele apenas desprezo. Mas estes documentos contrastam muito com a biografia oficial de Joseph, iniciada muitos anos mais tarde quando ele estava perto do ponto culminante da sua carreira. Esta conta a história de um rapaz visionário apanhado pela histeria do revivalismo e conduzido a uma vida de misticismo e exortação.
A evidência, porém, não deixa dúvida de que, quaisquer que fossem os sentimentos íntimos de Joseph, a sua reputação antes de organizar a igreja não era a de um místico adolescente perdido na contemplação de visões, mas antes a de um desocupado simpático que era notório devido às suas histórias exageradas e artes de necromancia e que gastava o seu tempo livre liderando um bando de desocupados na escavação de tesouros enterrados. Este comportamento é confirmado pela descrição objectiva mais fria que subsiste do jovem Joseph, que os historiadores até agora negligenciaram ou ignoraram. Esta descrição também parece ser o documento público mais antigo que o menciona. O documento, um registo do tribunal datado de Março de 1826, quando Joseph tinha 21 anos, relata o seu julgamento em Bainbridge, Nova Iorque, sob acusação de ser "uma pessoa desordeira e um impostor". Com base no testemunho apresentado, incluindo as próprias admissões de Joseph de que se entregava a artes mágicas e organizava buscas por ouro enterrado, o tribunal considerou-o culpado de perturbar a paz.
Quatro anos depois deste julgamento apareceu o Livro de Mórmon de Joseph, após o que os editores locais em Palmyra, que nunca antes o tinham considerado merecedor de comentário, começaram a explorar as excentricidades da sua juventude. O editor do Reflector de Palmyra, Abner Cole, sob o pseudónimo Obadiah Dogberry, escreveu durante 1830 e 1831 uma série de artigos descrevendo em exuberante detalhe os anos da adolescência de Joseph.
Mais tarde, em 1833, quando a igreja de Joseph estava a aumentar rapidamente em notoriedade e poder, um ex-mórmon descontente chamado Hurlbut foi a Palmyra e Manchester solicitar declarações juramentadas de mais de 100 pessoas que tinham conhecido Joseph antes de ele ter começado a carreira religiosa. Estes testemunhos juramentados, que foram publicados em 1834 por Eber D. Howe num vitriólico livro anti-mórmon intitulado Mormonism Unvailed, podem ter sido coloridos pela tendência do homem que os reuniu, mas confirmaram e suplementaram o registo do tribunal e os editoriais de Dogberry.1 Como a história que relatam sobre os anos de adolescência de Joseph Smith é adicionalmente substanciada por certas admissões na sua própria autobiografia e na biografia cândida ditada pela sua mãe, é possível reconstruir a juventude de Joseph com um razoável grau de exactidão.
Significativamente, o primeiro esboço de Joseph Smith sobre os seus anos iniciais tomou a forma de uma penitência pelas suas indiscrições juvenis. Pouco tempo depois de aparecer Mormonism Unvailed, ele escreveu uma resposta para o seu jornal da igreja:
Aos 10 anos de idade a família do meu pai mudou-se mais uma vez, para Palmyra, Nova Iorque, onde, e na vizinhança da qual, vivi ou fiz a minha residência, até ter 21 anos; na parte final, na cidade de Manchester. Durante este tempo, como é comum à maioria ou a todos os jovens, caí em muitos vícios e tolices; mas, como os meus acusadores são, e têm sido, rápidos em acusar-me de ser culpado de violações grosseiras e ultrajantes da paz e da boa ordem da comunidade, aproveito a ocasião para observar que, embora, como disse acima, "como é comum à maioria ou a todos os jovens, caí em muitos vícios e tolices", não fui, nem pode isso ser sustentado, em verdade, culpado de fazer o mal ou ferir qualquer homem ou sociedade de homens; e essas imperfeições a que aludo, e pelas quais tive muitas vezes ocasião para lamentar, foram uma mente frívola e muitas vezes orgulhosa, exibindo uma conversa tola e leviana.2
Embora 51 vizinhos de Joseph tenham assinado uma declaração juramentada acusando-o de ser "destituído de carácter moral e viciado em hábitos perversos", não há evidência de que o vício fosse parte da sua natureza, e a sua penitência pode ser aceite na íntegra. Na realidade, ele era um jovem gregário, bem disposto, imaginativo, nascido para a liderança, mas penalizado pela educação limitada e pela pobreza esmagadora.
Uma classe de proprietários estava a engordar à custa do seu trabalho, empurrando para oeste famílias irremediavelmente enlaçadas como a sua própria. No jornal de Palmyra ele podia ler sobre as suas vendas de hipotecas, 6 a 10 cada semana na primeira página. Ele vivia suficientemente a leste para ver opulência e ostentação mas não suficientemente a oeste para escapar ao fardo esmagador das dívidas. A sua família, tendo-se afundado cada vez mais desde aqueles anos iniciais em que o dote da sua mãe fora a inveja da vizinhança, tinha perdido a segurança e a respeitabilidade.
Mas a necessidade de deferência era forte dentro dele. Talentoso muito para além dos seus irmãos ou amigos, ele estava impaciente com as esperanças modestas e os gostos ordinários deles. Expedito no falar, ambicioso, e dotado de uma imaginação sem limites, ele sonhava com a fuga para um futuro ilustre e próspero. Pois Joseph não estava destinado a ser um agricultor trabalhador, amarrado à terra por hábito ou por amor pelo milagre recorrente da colheita. Ele detestava o arado como só um filho de agricultor pode detestar, e olhava com desespero para a hipoteca terrível que ensombrava o futuro da sua família.
Existe, claro, uma mina de ouro ou um tesouro enterrado em cada herdade hipotecada. Quer o agricultor alguma vez escave em busca dele ou não, o tesouro está ali, assombrando-o quando ele sonha acordado nos momentos em que o fardo das dívidas é mais insuportável. Nova Inglaterra estava cheia de caçadores de tesouros -- agricultores pobres e desesperados que, tendo comprado inconscientemente acres de pedras, esperavam que essas mesmas pedras produzissem uma recompensa dourada pela sua labuta esgotante. "Poderíamos citar, se assim o desejássemos", disse um semanário de Vermont, "pelo menos 500 homens respeitáveis que na simplicidade e sinceridade dos seus corações acreditam que tesouros imensos jazem escondidos nas nossas Montanhas Verdes, muitos dos quais estiveram durante vários anos empenhados de forma industriosa e perseverante em escavá-los."3
Quando estes homens migraram para oeste, trouxeram consigo todo o folclore do cavador de tesouros, os feitiços e encantamentos, o ramo de aveleira e a vara mineral. Mas enquanto as Montanhas Verdes nada produziram excepto um esconderijo ocasional com dinheiro falsificado, o oeste de Nova Iorque e Ohio eram ricos em relíquias índias. Centenas de pequenos túmulos pontilhavam o horizonte, repletos de esqueletos e artefactos de pedra, cobre, e por vezes prata batida. Havia 8 desses túmulos a menos de 20 quilómetros da quinta dos Smiths.4 Só uma fraca curiosidade impediria qualquer dos rapazes da família de meter a pá pelo menos uma vez nas suas superfícies corroídas, e até o pai sucumbiu ao entusiasmo local e tentou a sua sorte com um ramo de aveleira. O jovem Joseph não se conseguia manter afastado dos túmulos.
A excitação sobre as possibilidades de tesouros índios, e talvez ouro espanhol enterrado, atingiram o auge com a vinda do que o editor do Reflector de Palmyra chamou um "cartomante vagabundo" de nome Walters, que ganhou a confiança de vários agricultores a ponto de eles lhe pagarem 3 dólares por dia para procurar tesouros enterrados nas suas propriedades. Além de cristais, sapos embalsamados e varas minerais, a parafernália normal do adivinho, Walters afirmava ter achado um antigo registo índio que descrevia os locais dos tesouros escondidos. Ele lia este registo em voz alta para os seus seguidores no que parecia ser uma língua exótica e estranha mas que na realidade era, segundo declarou o editor do jornal, uma velha versão latina das Orations de César [Cícero?]. Os relatos da imprensa que descrevem a actividade de Walters, publicados em 1830-1831, declararam significativamente que quando ele deixou a vizinhança o seu manto caiu sobre o jovem Joseph Smith.5
Os vizinhos de Joseph mais tarde contaram muitas histórias sobre pedras de adivinhação, fantasmas, encantamentos mágicos e escavações nocturnas. Joseph Capron jurou que o jovem Joseph lhe tinha dito que uma arca de relógios de ouro estava enterrada na sua propriedade, e tinha dado ordens aos seus seguidores "para cravarem um lote de terreno com grandes estacas, várias varas ao redor, em forma circular", directamente sobre o local. Depois um dos do grupo marchou ao redor do círculo com uma espada desembainhada "para impedir qualquer assalto que sua majestade satânica pudesse estar disposta a fazer", e os outros cavaram furiosamente, mas em vão, em busca do tesouro.
Outro vizinho, William Stafford, jurou que Joseph lhe disse que havia um tesouro enterrado na sua propriedade, mas que só podia ser posto em segurança se uma ovelha negra fosse levada para o local, e "conduzida à volta de um círculo" sangrando, com a garganta cortada. Este ritual era necessário para aplacar o espírito maligno que guardava o tesouro. "Para gratificar a minha curiosidade", admitiu Stafford, "deixei-os levar uma grande ovelha gorda. Eles depois informaram-me que a ovelha foi morta segundo o mandamento; mas como houve algum erro no processo, não teve o efeito desejado. Acredito que esta foi a única vez que eles fizeram da escavação de tesouros um negócio lucrativo."6
A escavação de tesouros feita por Joseph começou a sério com a sua descoberta de uma "pedra de vidência" quando ele estava a cavar um poço para Mason Chase. Martin Harris declarou que a pedra estava a 7 metros de profundidade e Joseph Capron testificou que Joseph conseguia ver visões maravilhosas nela, "fantasmas, espíritos infernais, montanhas de ouro e prata". A esposa de Joseph certa vez descreveu esta pedra como "não exactamente negra mas antes de cor escura", embora ela não tenha admitido nenhum dos usos iniciais que foram dados à pedra.7
Anos mais tarde Joseph admitiu francamente no seu jornal da igreja e também no seu diário que tinha sido um escavador de tesouros, embora, escreveu, isso não fosse particularmente lucrativo já que ganhava "apenas 14 dólares por mês com isso".8 Mas que ele se entregava a todo o teatro enganoso que lhe era atribuído pelos seus vizinhos, isso ele negou vigorosamente.
A observação de cristais é uma profissão antiga e tem sido uma profissão honrada. Os egípcios olhavam fixamente para um reservatório com tinta, os gregos olhavam para um espelho, os astecas olhavam para um cristal de quartzo, e os europeus para uma lâmina de espada ou copo de vinho -- qualquer superfície translúcida que fizesse os olhos desfocarem-se com a observação prolongada. Quando Joseph Smith começou a usar a sua pedra de vidência ou de "ver", ele empregou o folclore familiar à América rural. Os detalhes dos seus rituais e encantamentos não são importantes pois eram comuns, e Joseph desistiu da escavação de tesouros quando tinha 21 anos em troca de uma profissão muito mais excitante.
Anos depois, quando Joseph Smith se começou a tornar o profeta reverenciado por milhares de mórmones, começou a escrever uma autobiografia oficial, na qual o seu relato dos anos da adolescência difere de forma surpreendente do breve esboço que ele tinha escrito em 1834 em resposta aos seus críticos. Aqui não havia qualquer desculpa mas antes o início de um épico.
Ele escreveu que quando tinha 14 anos de idade ficou perturbado por reavivamentos religiosos na vizinhança e foi para os bosques para procurar a orientação do Senhor.
Era a primeira vez na minha vida que eu tinha feito tal tentativa, pois entre todas as minhas ansiedades eu nunca tinha até então feito a tentativa de orar em voz alta.... Ajoelhei-me e comecei a oferecer a Deus os desejos do meu coração. Mal tinha começado a fazê-lo, quando imediatamente fui tomado por algum poder que me dominou completamente, e teve sobre mim uma influência tão espantosa a ponto de prender a minha língua de modo que não pude falar. Fiquei rodeado por uma escuridão cerrada, e durante algum tempo parecia-me como se eu estivesse destinado à destruição repentina. Mas, exercendo todos os meus poderes para invocar Deus para me libertar do poder deste inimigo que me tinha dominado, e no exacto momento em que eu estava pronto a afundar-me no desespero e abandonar-me à destruição -- não a uma ruína imaginária, mas ao poder de algum ser real do mundo invisível, que tinha um poder tão maravilhoso como eu nunca antes sentira em nenhum ser -- exactamente neste momento de grande alarme, vi uma coluna de luz mesmo por cima da minha cabeça, sobre a luminosidade do sol, que desceu gradualmente até que a senti sobre mim.
De súbito parecia que eu me encontrava liberto do inimigo que me tinha aprisionado. Quando a luz incidiu sobre mim vi duas personagens, cujo brilho e glória desafiavam toda a descrição, paradas sobre mim no ar. Uma delas falou comigo, chamando-me pelo nome, e disse -- apontado para a outra -- "Este é o meu amado Filho, escuta-O."
O meu objectivo ao ir consultar o Senhor era saber qual de entre todas as seitas estava certa, de modo que eu pudesse saber a qual me juntar. Portanto, logo que me consegui controlar, de modo a poder falar, perguntei às personagens que estavam paradas acima de mim na luz, qual de entre todas as seitas estava certa -- e a qual me devia juntar. Foi-me respondido que não me devia juntar a nenhuma delas, pois estavam todas erradas, e a personagem que se dirigiu a mim disse que os seus credos eram uma abominação à vista Dele: que esses professores eram todos corruptos; que "eles aproximam-se de mim com os lábios, mas os seus corações estão longe de mim; eles ensinam por doutrinas os mandamentos de homens: tendo uma forma de religiosidade, mas negam esse poder". Ele proibiu-me mais uma vez de me juntar a qualquer delas: e muitas outras coisas me disse ele, que não posso escrever nesta altura. Quando recuperei os sentidos novamente, vi que estava deitado de costas, olhando para o céu.9
Visões menores que esta eram comuns no folclore da área. Elias Smith, o famoso pregador dissidente de Vermont, aos 16 anos tinha tido uma experiência espantosamente parecida nos bosques perto de Woodstock, quando viu "o Cordeiro sobre o Monte Sião", e uma glória brilhante na floresta. John Samuel Thompson, que ensinou na Academia de Palmyra em 1825, tinha visto Cristo descer do firmamento "num resplendor de brilho excedendo 10 vezes o brilho do Sol meridiano", e tinha-O ouvido dizer: "Designo-te para ir e dizer à humanidade que cheguei; e ordeno a todos os homens que gritem vitória!" mas Thompson nunca tinha descrito isto como outra coisa senão um sonho. Asa Wild de Amsterdão, Nova Iorque, tinha falado com "a terrível e gloriosa majestade do Grande Jeová", e tinha aprendido "que toda a denominação de professos cristãos se tornara extremamente corrupta", que dois terços dos habitantes do mundo estavam prestes a ser destruídos e os restantes introduzidos no milénio. "Muito mais o Senhor revelou", tinha dito Wild, "mas proíbe que eu o relate deste modo. Publicarei em breve um panfleto barato, a minha experiência religiosa e jornada na vida divina."10
Mas a sua própria visão, conforme descrita por Joseph Smith 18 anos depois do evento, eclipsou claramente todas estas experiências. Naturalmente, seria de esperar que a imprensa local lhe tivesse dado publicidade considerável na época em que alegadamente ocorreu. E a autobiografia de Joseph levar-nos-ia de facto a acreditar que a sua visão de Deus Pai e Seu Filho tinha criado uma sensação na vizinhança:
Depressa descobri, porém, que o facto de eu ter contado a história tinha excitado muito preconceito contra mim entre professores de religião, e era a causa de muita perseguição, que continuou a aumentar; e embora eu fosse um rapaz obscuro, com apenas entre 14 e 15 anos de idade, e as minhas circunstâncias na vida me tornarem um rapaz irrelevante no mundo, ainda assim homens em altas posições tomaram nota o suficiente para excitar a mente do público contra mim, e criar uma perseguição amarga; e isto era comum a todas as seitas -- todas unidas para me perseguir.
Estranhamente, porém, os jornais de Palmyra, que anos depois lhe deram muita publicidade desagradável, não noticiaram a visão de Joseph na altura em que supostamente ocorreu. De facto, Dogberry insistiu no Reflector de Palmyra em 1 de Fevereiro de 1831: "No entanto, parece haver bastante certeza de que o próprio profeta nunca manifestou qualquer pretensão séria em relação à religião até à sua recente pretensa revelação [a descoberta do Livro de Mórmon]." Ele notou em 14 de Fevereiro que os seguidores de Joseph em Ohio estavam a afirmar que ele tinha "visto Deus frequentemente e pessoalmente", e que "foram exibidas designações e papéis que se dizia serem assinados pelo próprio Cristo". Mas ele insistiu em 28 de Fevereiro: "É bem sabido que Joe Smith nunca pretendeu ter qualquer comunhão com anjos até um longo período depois do pretenso achado do seu livro".11
O primeiro esboço biográfico de Joseph publicado, de 1834, mencionado acima, não continha qualquer vestígio de um acontecimento que, se tivesse acontecido, teria sido a experiência mais esmagadora para a alma em toda a sua juventude. Mas há duas versões manuscritas da visão entre 1831 e o relato publicado nas Remarkable Visions de Orson Pratt em 1840 que indicam que passou por uma assinalável evolução nos detalhes. Na primeira, que Joseph ditou em 1831 ou 1832, ele declarou que "no 16.º ano da minha idade... o Senhor abriu os céus sobre mim e vi o Senhor". Em 1835 isto tinha mudado para uma visão de duas "personagens" num "pilar de fogo" sobre a sua cabeça, e "muitos anjos". Na versão publicada as personagens tinham-se tornado Deus Pai e Seu filho Jesus Cristo, e os anjos tinham-se desvanecido. A idade de Joseph tinha mudado para 14.12
Embora a data final de Joseph para o começo da sua missão tenha sido fixada em 1820, há evidência de que a sua mãe e irmãos, Hyrum e Samuel, aparentemente não deixaram de ir à sua igreja presbiteriana até Setembro de 1828.13 Lucy Smith, ao escrever ao seu irmão em 1831 os detalhes completos do Livro de Mórmon e a fundação da nova igreja, nada disse sobre a "primeira visão". A mais antiga história Mórmon publicada, iniciada com a colaboração de Joseph em 1834 por Oliver Cowdery, ignorou-a completamente, declarando que a excitação religiosa na área de Palmyra ocorreu quando ele tinha 17 anos (não 14). Cowdery descreveu a vida de visões de Joseph como tendo começado em Setembro de 1823, com a visão do anjo chamado Moroni, que se diz ter dirigido Joseph na descoberta das placas de ouro escondidas. Significativamente, em anos posteriores alguns dos familiares próximos de Joseph confundiram a "primeira visão" com a visão do anjo Moroni.14
Quando Joseph começou a sua autobiografia, em 1838, ele estava a escrever não sobre a sua própria vida mas sobre alguém que já se tinha tornado o profeta mais célebre do século 19. E ele estava a escrever para o seu próprio povo. As memórias são sempre distorcidas pelos desejos, pensamentos e, acima de tudo, as obrigações do momento.
Se aconteceu alguma coisa naquela manhã de 1820, passou completamente despercebido na cidade natal de Joseph, e aparentemente nem sequer deixou marca nas mentes dos membros da sua própria família. A espantosa visão que ele descreveu em anos posteriores era provavelmente a elaboração de algum sonho meio lembrado estimulado pela excitação do revivalismo inicial e reforçada pelo rico folclore de visões que circulava na sua vizinhança. Ou pode ter sido pura invenção, criada algum tempo depois de 1830 quando surgiu a necessidade de uma tradição grandiosa para anular as histórias sobre cartomancia e escavação de tesouros. As imagens de sonho vinham facilmente a este jovem, cuja imaginação era tão desentravada como todo o oeste.
Uns poucos cidadãos perspicazes na vizinhança de Joseph estavam mais divertidos com os seguidores dele do que alarmados com as implicações morais das suas escavações em busca de tesouros. Um nativo, ao escrever as suas impressões sobre o rapaz alguns anos depois, reconheceu alguns talentos positivos: "Joseph tinha um pouco de ambição, e algumas aspirações muito louváveis; o intelecto da mãe brilhava debilmente nele, especialmente quando ele costumava ajudar-nos a resolver algumas portentosas questões de moral ou ética política no nosso clube de debates juvenil, que mudámos para o velho prédio escolar vermelho na rua Durfee, para nos vermos livres dos críticos que costumavam aparecer de surpresa na aldeia. E subsequentemente, depois de apanhar uma faísca de metodismo na reunião do campo, lá em baixo nos bosques, na estrada para Vienna, ele era um exortador muito razoável nas reuniões nocturnas."15
Este é um de dois relatos não-mórmones que indicam que Joseph Smith, apesar de todo o seu entusiasmo pela necromancia, não era imune à excitação religiosa que varria periodicamente Palmyra. A mãe dele escreveu que desde o primeiro dia ele recusou terminantemente comparecer às reuniões no campo, dizendo: "Posso pegar na minha Bíblia e ir para os bosques e aprender mais em duas horas do que vocês aprendem na reunião em dois anos, se forem sempre."16 Mas é evidente que ele estava sagazmente alerta para as diferenças que dividiam as seitas e estava genuinamente interessado nas controvérsias. Embora desprezando o sectarismo, ele gostava de pregar porque isso lhe dava uma audiência. E isto era tão essencial para Joseph como o alimento.
Daniel Hendrix, que ajudou a montar os tipos para o Livro de Mórmon, escreveu certa vez que Joseph tinha "um modo jovial, fácil, despreocupado que lhe granjeou muitos amigos calorosos. Ele era um bom conversador, e teria sido um bom orador propagandista, se tivesse tido o treino. Ele era conhecido como um romancista de primeira ordem. Nunca pensei que um homem tão ignorante como Joe pudesse ter uma imaginação tão fértil. Ele nunca contava uma ocorrência comum da sua vida diária sem embelezar a história com a sua imaginação; no entanto, lembro-me que um dia ele ficou ofendido quando o velho Parson Reed lhe disse que ia para o inferno por causa do seu hábito de mentir."17
O próprio Joseph falou muitas vezes do seu "temperamento nativo alegre", e era evidente que desde uma idade precoce ele era um jovem amigável e divertido que se deleitava em representar perante os seus amigos. Aos 17 anos ele era magro e poderoso, 1 metro e 82 centímetros e moderadamente atraente. O seu cabelo, mudando de prateado para castanho claro, caía para trás de forma luxuriante a partir da testa. Mesmo nesta idade havia algo que compelia na sua presença e homens mais velhos ouviam as suas histórias meio duvidando, meio respeitosos. Nunca lhe faltavam seguidores.
A imaginação dele transbordava como uma inundação de primavera. Quando ele olhava fixamente para o seu cristal e via ouro em todo o monte com forma estranha, estava a escapar do trabalho árduo na quinta para uma opulência gloriosa. Se ele tivesse podido continuar os seus estudos, sujeitando a sua fantasia adaptável e o seu tremendo talento dramático à disciplina e à moldagem, a sua vida poderia nunca ter tomado o rumo exótico que tomou. A mente dele era ágil e impaciente, e o estudo disciplinado podia ter feito os seus talentos criativos voltarem-se para uma direcção convencionalmente mais proveitosa.
Stephen A. Douglas, também ele um grande líder natural, estava nestes mesmos anos frequentando a Academia de Canandaigua, uns 14 quilómetros a sul, e foi ali que tomou as medidas aos seus talentos vigorosos e começou a pô-los em uso. Os dois provavelmente não se conheceram na juventude, mas quando os seus caminhos se cruzaram anos mais tarde em Illinois os dois homens tinham-se tornado, cada um à sua própria maneira, as figuras mais célebres na fronteira do Mississipi.
Saber se o espírito em ebulição de Joseph poderia alguma vez ter sido canalizado por qualquer disciplina é uma questão em aberto. Ele só teve estudos escolares formais limitados depois de sair de Nova Inglaterra. E como nunca teve uma verdadeira perspectiva sobre os seus próprios dons, provavelmente estava inclinado a encará-los como mais anormais -- ou supernaturais -- do que realmente eram. O que era na realidade uma capacidade extraordinária para a fantasia, que com treino apropriado poderia até tê-lo levado à escrita de novelas, era encarado por ele mesmo e pelos seus seguidores como uma segunda visão genuína e pelos habitantes mais religiosos das cidades como mentira ultrajante.
Quando Joseph tinha 18 anos o seu irmão mais velho Alvin morreu numa agonia súbita e terrível causada pelo que a sua mãe descreveu como uma dose excessiva de calomelanos prescrita por um médico para curar uma perturbação de estômago. Na sua narrativa Lucy Smith mencionou a morte rapidamente e quase filosoficamente, pois tinham passado 20 anos para mitigar a sua mágoa, mas ela omitiu completamente a sua curiosa sequela.
Alvin não tinha sido um frequentador da igreja, e o ministro que pregou o seu sermão fúnebre "insinuou muito fortemente que ele tinha ido para o inferno."18 A fúria da família contra o vigário mal tinha arrefecido quando ouviram um rumor de que o corpo de Alvin tinha sido exumado e dissecado. Receando que o rumor fosse verdade, o Smith pai destapou a sepultura em 25 de Setembro de 1824 e inspeccionou o cadáver. Em 29 de Setembro, e durante uma semana a seguir a essa data, ele publicou o seguinte anúncio pago no Wayne Sentinel:
AO PÚBLICO:
Embora tenham sido laboriosamente postos em circulação relatos de que o meu filho Alvin foi removido do local do seu enterro e dissecado; relatórios esses que toda a pessoa possuindo sensibilidade humana deve saber que foram peculiarmente calculados para atormentar a mente de um pai e ferir profundamente os sentimentos de relações, eu, com alguns dos meus vizinhos esta manhã dirigi-me à sepultura, e removendo a terra, encontrei o corpo, que não tinha sido perturbado. Este método é tomado com o propósito de satisfazer as mentes daqueles que o puseram em circulação, que é solicitado seriamente que cessem de o fazer; e que alguns acreditam que [os rumores] foram estimulados mais pelo desejo de ferir a reputação de certas pessoas do que por uma filantropia pela paz e bem estar de mim próprio e de amigos.
(Assinado) Joseph Smith
Palmyra, 25 de Setembro de 1824
É difícil explicar esta cruel piada como outra coisa além da tentativa de alguém ridicularizar as actividades de escavação da família Smith, que nunca tinham sido seriamente interrompidas. De facto, na altura em que tinha 19 anos o jovem Joseph estava a começar a adquirir uma reputação de ser um necromante de talento excepcional que contava até o seu pai e irmão Hyrum entre os seus seguidores. A sua mãe escreveu que Josiah Stowel (ou Stoal) fez o longo caminho desde a Pennsylvania para ver o seu filho "depois de ter ouvido que ele possuía certas chaves através das quais podia discernir coisas invisíveis ao olho natural."19
Stowel, um agricultor idoso de South Bainbridge (agora Afton), Nova Iorque, tinha vindo para norte visitar familiares e tinha encontrado Joseph em Palmyra. Simpson Stowel suplicou-lhe que exibisse os seus talentos mágicos perante o pai, e Joseph, sendo amigo de Simpson, acedeu, descrevendo em detalhe a "casa e alpendres" de Stowel em South Bainbridge. Stowel ficou tão impressionado que suplicou ao jovem que fosse para sul consigo e procurasse uma mina de prata perdida que se dizia ter sido explorada pelos espanhóis no Vale de Susquehanna. Disse que lhe pagaria 14 dólares por mês e alojamento gratuito.20
A colheita estava terminada e a perspectiva de ver novas paragens provavelmente atraiu Joseph tanto como o salário em dinheiro. Sempre leal à sua família, ele insistiu que o seu pai fosse incluído no arranjo, e partiram com Stowel para sul. Pararam no sopé dos montes em Allegheny, ficando durante algum tempo em Harmony, Pennsylvania, nas margens do romântico Susquehanna. Nesse local alojaram-se com um homem enorme e rude de Vermont chamado Isaac Hale.
O seu anfitrião, um caçador famoso, gastou a maior parte do tempo nas florestas, deixando a sua esposa e filhas cuidar dos jardins e vacas. Joseph sentiu-se imediatamente atraído por Emma, de 21 anos, uma rapariga de tez escura e face séria com grandes olhos brilhantes cor de avelã. Ela era sossegada, quase taciturna, com um ar inabordável ao qual Joseph, que aos 20 anos já era considerado "um grande favorito das senhoras", respondeu com mais do que atenção casual.
A princípio Isaac Hale ajudou a subsidiar as expedições de Stowel às montanhas, mas com os primeiros falhanços ficou rapidamente desiludido e pouco depois tornou-se desdenhoso. Nove anos mais tarde ele escreveu sobre Joseph, que então se tornara seu genro: "A aparência dele nesta altura era a de um jovem descuidado -- não muito bem educado, e muito impertinente e insolente para o pai.... O jovem Smith a princípio deu grande encorajamento aos 'escavadores de tesouros', mas quando chegaram a cavar perto do local onde ele tinha dito que um imenso tesouro seria encontrado -- ele disse que o encantamento era tão poderoso que não conseguia ver. Nessa altura eles ficaram desencorajados, e pouco depois dispersaram-se. Isto ocorreu por volta de 17 de Novembro de 1825."21
Com o passar do tempo o pai de Joseph voltou a Palmyra, mas o jovem permaneceu na quinta de Josiah Stowel, que parece nunca ter perdido a fé nos talentos sobrenaturais do seu protegido. Joseph trabalhava na quinta, frequentava a escola no inverno, e passava o seu tempo livre procurando tesouros e indo a cavalo a Pennsylvania para ver Emma Hale.
Em Março de 1826 as artes mágicas de Joseph pela primeira vez trouxeram-lhe problemas sérios. Um dos vizinhos de Stowel, Peter Bridgman, prestou juramento num mandato para a detenção do jovem, acusando-o de ser uma pessoa desordeira e impostor. No tribunal Joseph negou que passasse todo o tempo à procura de minas e insistiu que na maior parte do tempo trabalhava na quinta de Stowel e ia à escola. Admitiu, no entanto, que "tinha uma certa pedra, para a qual tinha olhado ocasionalmente para determinar onde estavam tesouros escondidos nas entranhas da terra; que afirmava dizer deste modo a que distância abaixo do chão estavam as minas de ouro, e que fizera buscas para o Sr. Stowel várias vezes, e informara-o onde poderia encontrar esses tesouros, e o Sr. Stowel tinha estado envolvido em cavar à procura deles; que em Palmyra ele fingira dizer, olhando para a sua pedra, onde estavam enterrados tesouros em Pennsylvania, e enquanto em Palmyra tinha frequentemente determinado desse modo onde estavam bens perdidos, de vários tipos; que tinha ocasionalmente o hábito de olhar através para a sua pedra para encontrar bens perdidos durante três anos, mas ultimamente tinha praticamente desistido pois isso prejudicava a sua saúde, especialmente os seus olhos -- fazia-lhe doer os olhos; que não solicitava negócios deste tipo; e sempre preferira declinar ter algo que ver com este negócio."22
Stowel defendeu Joseph com grande vigor, insistindo que "sabia positivamente" que Joseph podia ver tesouros valiosos através da pedra. Certa vez o jovem dissera-lhe para cavar nas raízes de um velho tronco, prometendo que encontraria um esconderijo de tesouro e uma pluma. À profundidade de metro e meio desenterrou a pluma, descobrindo que o tesouro se tinha "deslocado para baixo".
O seu testemunho, embora bem intencionado, fez ao prisioneiro mais mal que bem. Os familiares de Stowel atacaram amargamente Joseph, e o tribunal considerou-o culpado, embora o registo não diga qual foi a sentença determinada. A história de Oliver Cowdery, o único relato mórmon que alguma vez mencionou este julgamento, negou que Joseph tivesse sido culpado. "... alguma pessoa muito importuna", escreveu Cowdery, "queixou-se dele dizendo que era uma pessoa desordeira, e trouxe-o perante as autoridades do concelho; mas não havendo causa para acção ele foi honradamente absolvido."23
Parece que este julgamento, o primeiro numa longa série de crises na sua vida, chocou Joseph, incutindo-lhe um sentimento de que o seu passatempo era fútil, pois nesta altura ele desistiu completamente das suas escavações em busca de tesouros, embora tenha guardado a sua pedra de vidência e alguns dos artifícios psicológicos do adivinho rural.
Pode ser que esta renúncia tenha ocorrido em parte devido a desilusão com a sua própria magia. A maioria dos adivinhos são pessoas ignorantes e supersticiosas que acreditam profundamente nas suas varas minerais e pés-de-coelho. Os mágicos profissionais, por outro lado, não são ingénuos. O grande antropólogo Sir James Frazer indicou sabiamente que em tribos primitivas é provável que o noviço inteligente que estuda para ser curandeiro detecte as falácias que impressionam espíritos menos brilhantes. É muito mais provável que o feiticeiro que acredita nas suas próprias pretensões extravagantes tenha a sua carreira abreviada do que o impostor deliberado, e os mais hábeis são aqueles que planeiam e treinam as suas imposturas. Onde o feiticeiro honesto é refreado quando os seus encantamentos falham visivelmente, o enganador deliberado tem sempre uma desculpa. Certamente o mentor de Joseph, o prestidigitador Walters, pertencia a esta última classe.
É evidente que Joseph não tinha qualquer desejo de fazer da imitação de Walters a profissão da sua vida. Talvez ele tenha desistido dos truques e artifícios precisamente quando a superficialidade destes se tornou mais evidente para ele; talvez a sua renúncia fosse inteiramente devida a Emma Hale. Mas ele não podia deitar fora a sua fantasia desenfreada e o seu amor pela teatralidade, que o tinha atraído originalmente para a necromancia.
Depois do julgamento ele permaneceu durante alguns meses com Stowel, pois agora estava muito apaixonado e relutante em regressar a Palmyra sem levar Emma consigo como sua esposa. Mas Isaac Hale, tendo Joseph na conta de um impostor barato, trovejou uma recusa quando lhe foi pedida a mão dela e expulsou-o da casa. Joseph agora fazia visitas clandestinas sempre que Hale saía para caçar e suplicou à rapariga que fugisse com ele.
Céptica, sem saber o que esperar dele e preocupada com o futuro deles, ela hesitou. Mas só havia cerca de 200 pessoas em Harmony, e ela desdenhava a escassez de homens elegíveis na aldeia. Agora aproximando-se dos 23 anos, ela pode ter-se sentido ameaçada com a perspectiva de ficar solteirona. Além disso, Joseph tinha todo o ardor de um jovem de 21 anos, e nada da inarticulação usual. Ela estava descontroladamente apaixonada por ele.
Ele era grande, poderoso e segundo os padrões normais muito atraente, excepto o nariz, que era aquilino e proeminente. Os seus grandes olhos azuis eram orlados de pestanas fantasticamente longas que faziam o seu olhar parecer velado e ligeiramente misterioso. Emma provavelmente reparou logo naquilo que muitos dos seus seguidores mais tarde acreditavam ter uma causa sobrenatural: quando ele estava a falar com sentimento intenso, o sangue esvaía-se da sua face, deixando uma palidez assustadora, quase luminosa. Embora ela possa ter desaprovado as escavações em busca de tesouros, deve ter tido fé na sua compreensão de mistérios insondáveis para as pessoas comuns; ela não precisava que ninguém lhe dissesse que ele não era um homem comum.
Stowel, que tinha afeição pelo casal e estava ansioso por fazer avançar o casamento, fez preparativos para Emma visitar Joseph na sua casa em South Bainbridge. Em 18 de Janeiro de 1827 eles casaram-se em segredo na casa de Squire Tarbell. Depois da cerimónia partiram para Manchester para viver com os pais de Joseph.
Oito meses depois voltaram a Harmony para enfrentar a fúria de Isaac Hale e para levar alguns móveis e gado que Emma possuía em seu próprio nome. Como Joseph não tinha carroça, contratou Peter Ingersoll para os levar, e é graças a ele que temos uma descrição do encontro.24
Hale estava num mar de lágrimas quando se encontrou com o casal. "Roubaste a minha filha e casaste com ela", chorou. "Eu teria preferido segui-la para a sepultura. Passas o tempo a cavar em busca de tesouros -- finges ver numa pedra, e assim tentas enganar as pessoas."
"Joseph chorou", disse Ingersoll, "e reconheceu que agora não conseguia ver numa pedra, nem nunca tinha conseguido; e que as suas pretensões anteriores a esse respeito eram todas falsas. Então prometeu abandonar os seus velhos hábitos de cavar em busca de tesouros e olhar para pedras". Um pouco conciliado, Hale disse a Joseph que se ele se mudasse para Pennsylvania e trabalhasse pelo sustento, ajudá-lo-ia a entrar nos negócios, e Joseph concordou com isto.
Mas havia uma grande impaciência neste jovem que o fazia odiar o trabalho da terra. Na verdade, ele tinha abandonado definitivamente as escavações em busca de tesouros. Mas se ficara desiludido com a profissão, tinha retido uma fé soberba em si mesmo. Nos 5 anos seguintes Joseph subiu do mundo da magia para o mundo da religião. Foi transformado de necromante menor num profeta, rodeado já não por uma clientela mas por seguidores entusiásticos com propósitos e ideais comuns.

Notas

1 Como os livros e jornais em que estes documentos apareceram originalmente são tão raros a ponto de serem inacessíveis ao leitor comum, o registo do tribunal, os excertos relevantes dos editoriais de Dogberry e as declarações juramentadas mais importantes são reproduzidas no Apêndice A.
2 Latter-Day Saints Messenger and Advocate, Vol. I (Kirtland, Ohio, 6 de Novembro de 1834), p. 40.
3 Reimpresso no Wayne Sentinel (Palmyra, Nova Iorque), 16 de Fevereiro de 1825.
4 Para descrições e localizações dos túmulos índios no oeste de Nova Iorque veja E. G. Squier: Antiquities of the State of New York (Buffalo, 1851), pp. 31, 66, 97, 99; O. Turner: Pioneer History of the Settlement of Phelps and Gorham's Purchase (1851), p. 216; e History of Ontario County (1876), p. 101. O Palmyra Herald em 14 de Agosto de 1822 e o Palmyra Register em 26 de Maio de 1819 relataram descobertas de novos túmulos.
5 Veja o Apêndice A.
6 Veja o Apêndice A para extractos mais completos destas declarações juramentadas.
7 A descrição de Emma Smith foi escrita numa Carta dirigida à Sra. Pilgrim de Nauvoo, Illinois, 27 de Março de 1871. Está presentemente na biblioteca da Igreja Reorganizada em Independence, Missouri. A declaração de Martin Harris foi publicada em Tiffany's Monthly, 1859, pp. 163-170. Ele disse mais: "Havia uma companhia ali naquela vizinhança, que estava a escavar em busca de tesouros que supostamente tinham sido escondidos pelos antigos. Desta companhia eram o velho Sr. Stowel -- penso que o nome dele era Josiah -- também o velho Sr. Beman, também Samuel Lawrence, George Proper, Joseph Smith, jr., e o seu pai, e o seu irmão Hiram Smith. Eles escavaram em busca de tesouros em Palmyra, Manchester, também em Pennsylvania e noutros lugares."
Joseph exibiu a sua pedra de vidência numa data tão tardia como 27 de Dezembro de 1841. (Veja o diário de Brigham Young no Millennial Star, Vol. XXVI, p. 119.) Depois da sua morte foi levada para o Utah. Segundo Hosea Stout, Brigham Young exibiu aos regentes da Universidade de Deseret em 26 de Fevereiro de 1856 "a pedra de vidência com a qual O Profeta Joseph descobriu as placas do Livro de Mórmon." Hosea Stout disse que a pedra era quase preta, com riscas de cor clara. (Veja a transcrição dactilografada do jornal dele na Utah State Historical Society Library, Vol. VI, pp. 117-118.)
8 Elder's Journal, Far West, Missouri, Vol. I (1838), p. 43; e Joseph Smith: History of the Church, Vol. III, p. 29. (Esta história, compilada principalmente dos diários manuscritos de Smith no arquivo em Salt Lake City, será de aqui em diante mencionada simplesmente como History of the Church.)
9 History of the Church, Vol. I, pp. 5-7.
10 Veja o Wayne Sentinel, 22 de Outubro de 1823, para o relato de Wild. A visão de Elias Smith é descrita em The Life, Conversion, Preaching... of Elias Smith, escrito por ele mesmo (Portsmouth, New Hampshire, 1816), p. 58. Ele veio originalmente de Lyme, Connecticut, a cidade natal de Solomon Mack, e migrou para Vermont no mesmo período que Mack. O sonho de Thompson é descrito no seu Christian Guide (Utica, Nova Iorque, 1826), p. 71.
11 Os ficheiros do Reflector de Palmyra estão na Sociedade Histórica de Nova Iorque; outros documentos de Palmyra estão na Biblioteca Estatal de Nova Iorque em Albany. Veja o Apêndice A.
12 Veja Times and Seasons (Nauvoo, Illinois) 15 de Março de 1842. Para os três relatos diferentes da visão ditada por Joseph Smith em 1831-1832, 1835 e 1839, veja o artigo de Dean D. Jesse "Early Accounts of Joseph Smith's First Vision" (Relatos Iniciais da Primeira Visão de Joseph Smith), Brigham Young University Studies, Vol. IX, 1969, pp. 275-294. Para detalhes veja o suplemento.
13 Registos da Igreja Presbiteriana de Palmyra, conforme filmados em 1969 pelo Reverendo Wesley P. Walters, descrevem os procedimentos em 3, 10, 24 e 29 de Março de 1830, quando Lucy Smith e os seus filhos Hyrum e Samuel foram suspensos da igreja por "negligenciarem a adoração pública e o sacramento da ceia do Senhor durante os últimos dezoito meses".
14 Lucy Smith para Solomon Mack, 6 de Janeiro de 1831, em Ben E. Rich: Scrapbook of Mormon Literature (Chicago, Illinois, 190?), Vol. I, p. 543. Quando Lucy escreveu a sua biografia de Joseph em 1845, com a colaboração de Martha Coray, citou directamente a história publicada de Joseph sobre a primeira visão em vez de descrever qualquer parte dessa visão nas suas próprias palavras. Para a história de Cowdery veja Latter-Day Saint Messenger and Advocate (Kirtland, Ohio, 1834-1835), especialmente a Carta IV, Fevereiro de 1835, p. 78. William, irmão de Joseph, disse num sermão em Deloit, Iowa, em 8 de Junho de 1884: "Lembrar-se-ão que imediatamente antes de o anjo ter aparecido a Joseph, houve um reavivamento pouco usual na vizinhança.... Joseph e eu próprio não aderimos; eu não tinha semeado toda a minha aveia.... foi por sugestão do Rev. M----, que o meu irmão se dirigiu a Deus. Quando ele estava envolvido em oração, viu um pilar de fogo descer. Viu-o alcançar o topo das árvores. Ele foi sobrepujado, ficou inconsciente, não soube quanto tempo ficou nesta condição, mas quando voltou a si, a grande luz estava por cima dele, e foi-lhe dito pela personagem que vira descer com a luz, para não se juntar a nenhuma das igrejas. Que ele seria instrumental nas mãos de Deus em estabelecer a verdadeira igreja de Cristo. Que havia um registo escondido no monte Cumorah que continha a plenitude do Evangelho. Devem recordar-se que Joseph não tinha mais de dezoito anos de idade nesta altura, demasiado jovem para ser um impostor." (Saints Herald, Vol. XXXI, pp. 643-644).
O primo de Joseph, George A. Smith, fez o mesmo tipo de erro em dois sermões em Salt Lake City. Veja Journal of Discourses, Vol. XII, p. 334, e Vol. XIII, p. 78. Edward Stevenson, nas suas Reminiscenses of Joseph the Prophet (Salt Lake City, 1893), p. 4, declarou que em Pontiac, Michigan, em 1834, ele ouvira o profeta testificar "com grande poder a respeito da visão do Pai e do Filho". Mas a autobiografia manuscrita sobre a qual estas reminiscências se baseiam, escrita em 1891, ao descrever o mesmo incidente falou apenas da "visão de um Anjo".
15 O. Turner: History of the Pioneer Settlement of Phelps and Gorham's Purchase, p. 214.
16 Biographical Sketches, p. 101.
17 Carta de Hendrix datada de 2 de Fevereiro de 1897, publicada no St. Louis Globe Democrat, citada em William A. Linn: The Story of the Mormons (Nova Iorque, 1902), p. 13.
18 Declaração de William Smith, irmão mais novo de Joseph, numa entrevista com E. C. Briggs e J. W. Peterson, publicada no Deseret News (Salt Lake City, Utah), 20 de Janeiro de 1894.
19 Biographical Sketches, pp. 91-92.
20 Para a declaração de Stowel veja o seu testemunho no julgamento no tribunal de Bainbridge em 1826, reproduzido no Apêndice A. Veja também History of the Church, Vol. III, p. 29.
21 Para a declaração juramentada de Hale veja o Apêndice A.
22 Para o texto completo do registo do tribunal deste julgamento veja o Apêndice A.
23 Latter-Day Saints Messenger and Advocate (Kirtland, Ohio), Outubro de 1835. Cowdery declara que este julgamento teve lugar antes de 1827. Não deve, portanto, ser confundido com dois julgamentos posteriores na mesma área, nos quais Joseph foi mesmo absolvido.
24 Para a declaração de Ingersoll, veja o Apêndice A.

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