Razão x Testemunho – Um estudo Psicológico

Razão x Testemunho – Um estudo Psicológico

(Extraído do livro de Arza Evans, The Keystone of Mormonism)

Fonte:  A Verdade Sud

Joseph Smith disse a seus seguidores que eles poderiam saber a verdade sobre suas revelações e sobre o Livro de Mórmon por sincera oração . Algumas vezes jejum e oração juntos seriam necessários. Se uma pessoa orasse com real intenção em nome de Cristo, Deus faria com que um certo "sentimento" viesse sobre ela. Smith sempre ensinou a importância dos sentimentos e emoções como forma de discernir a verdade.

Um Testemunho

E mesmo agora, depois de todos esses anos, muitos membros da igreja ainda dizem: 

“Eu não dou importância para o quanto de evidências científicas há contra o Livro de Mórmon, o que realmente importa para mim é o sentimento que eu tive em meu coração enquanto lia esse livro e frequentava às reuniões de testemunho.”

Mesmo nos mais altos escalões da igreja, o testemunho, não a evidência científica ou pensamento lógico, predomina. Um bom exemplo disso ocorreu em 1922, quando B. H. Roberts (foto ao lado), talvez o maior historiador mórmon e seu mais celebrado intelectual, apresentou cinco questões sobre O Livro de Mórmon para a Primeira Presidência, ao Quórum dos Doze e o Conselho dos Setenta (do qual ele fazia parte):

1- Como pode haver tamanha diversidade de línguas indígenas no Hemisfério Oeste quando Leí e seus seguidores só estiveram aqui por um curto período de tempo?

 

2- Por que não havia cavalos na América quando os espanhóis aqui chegaram sendo que Leí e sua família tinham tais animais?

3- Néfi tinha um arco de aço quando registros históricos apontam que os judeus não possuíam conhecimentosobre o aço em 600 a.C.

4- As palavras “espadas” e “cimitarras” aparecem no Livro de Mórmon, mesmo que elas não tivessem sido registradas na literatura mundial até bem depois da Era Cristã.

5- Os nefitas possuíam seda em abundância quando esta aparentemente não era conhecida na América.

Roberts esperava que a sabedoria coletiva daqueles homens ou talvez uma revelação do Senhor pudessem responder suas perguntas. Depois de três dias de reuniões, Roberts contou o seguinte: 

“Em resposta eles simplesmente ficaram de pé, um por um, e prestaram seu testemunho sobre a veracidade do Livro de Mórmon”. 

Esse é o mesmo tipo de reação que a maioria dos membros da igreja tem hoje em dia quando confrontados com evidências científicas contra o Livro de Mórmon. O testemunho tem prioridade sobre a ciência.

Algumas Perguntas Sobre o Testemunho

Mas o que é mesmo um testumunho? É uma forma de comunicação divina ou uma poderosa experiência psicológica? Como um testemunho pode ser confiável quando testemunhos sinceros se contradizem? E por que o testemunho é considerado mais confiável do que evidências científicas e o pensamento lógico por muitos membros da igreja?

Apesar da grande evidência contra a autenticidade do Livro de Mórmon, muitos membros da igreja afirmam ter um “testemunho espiritual” que transcende a ciência. Muitos dos que assim se sentem não estão a par que durante toda a história mundial muitas pessoas tem acreditado fortemente em suas convicções, o suficiente para muitas vezes morrer por sua ideologia. 

Muitos grupos religiosos tem lutado e matado uns aos outros enquanto oravam fervorosamente a seu Deus pedindo ajuda. Milhares de homens e mulheres tem tido um “testemunho” forte o suficiente para oferecer seus próprios filhos em sacrifício para ídolos pagãos. 

Um testemunho pessoal em ação pode ser uma coisa muito assustadora. A razão humana pode não ser perfeita, mas o comportamento irracional e emocional tem enchido as páginas da história com um triste legado de violência, intolerância, ódio e guerra.

A Criação de Uma Forte Resposta Emocional

Apesar de seu estilo literário cansativo e repetitivo, o Livro de Mórmon possui uma incrível habilidade de criar poderosas respostas emocionais e espirituais. Tais sentimentos podem ser o que muitas pessoas clamam ser seu “testemunho”. Para elas o Livro de Mórmon parece verdade; tem um espírito familiar; traz lágrimas a seus olhos. Elas parecem pensar que se algumas de suas doutrinas são edificantes, então o livro deve ser autêntico.

Talvez O Livro de Mórmon toque o coração de muitas pessoas porque ele reafirma que algumas de suas convicções mais profundas são verdadeiras. Se uma pessoa quer desesperadamente acreditar em algo, isso normalmente cria uma forte resposta emocional quando ela lê ou escuta qualquer coisa que satisfaça esse desejo.

Por exemplo, pessoas ricas as vezes se sentem culpadas quando observam a relativa pobreza e privação que os rodeia por todos os lados. Eles comumente vivem em bairros exclusivos e comunidades fechadas. Eles frequentam círculos sociais onde são libertos da dor de observar a pobreza e degradação humana dos outros. 

Pessoas ricas podem achar conforto lendo um dos temas mais repetidos no Livro de Mórmon, a doutrina Calvinista de que riquezas são uma bênção de Deus. Pessoas boas tem a promessa divina de que irão “prosperar na terra” enquanto os que não cumprem os mandamentos de Deus serão “lançados fora”.

De acordo com o Livro de Mórmon, a prosperidade material é uma indicação da graça e favor de Deus não apenas nesse mundo, mas também no próximo. Deus e Mamom não são incompatíveis no final das contas. Eles não são os inimigos que as igrejas cristãs apóstatas (e o Novo Testamento) nos fizeram crer.

Por outro lado, os pobres também podem encontrar conforto nos tocantes sermões do Rei Benjamim, Alma, e Morôni. O pequeno livro de 4 Néfi descreve uma sociedade utópica onde não há ricos nem pobres. Todos dividem tudo como verdadeiros irmãos e irmãs. 

A “Irmandade dos Homens” (“brotherhood of man”, alusão a canção “Imagine” do beatle John Lennon) é uma realidade, não só algo falado no domingo. Essa doutrina por si só é capaz de trazer lágrimas aos olhos daqueles que tem vivido em pobreza por toda suas vidas. Muitos dos primeiros conversos vieram dos mais remotos lugares do Velho Mundo esperançosos em dividir a riqueza com os santos em Sião.

Místicos, espiritualistas, e visionários encontram identificação imediata com Leí, Néfi, e outros profetas do Novo Mundo. A narrativa de Smith ainda inclui uma bola mágica, pedras brilhantes, transes, visões, conversões em massa, tesouros enterrados e todos os tipos imagináveis de milagres. 

Uma das maiores mensagens do Livro de Mórmon é a de que visões, dom de línguas, e transes são para serem levados a sério. Aqueles que ridicularizam os místicos e visionários podem estar lutando contra a vontade de Deus. Tudo isso pode ser muito reconfortante para homens e mulheres visionários.

Muitos Cristãos ficam felizes em ter outro testemunho de que Jesus é o Cristo. Néfi e muitos outros profetas predisseram o nascimento de Cristo por uma virgem e sua missão divina. O livro de 3 Néfi oferece um relato da visita do Cristo ressurreto ao Novo Mundo.

Alguns dos ensinamentos do Novo Testamento são repetidos. Tudo isso propicia uma forte resposta emocional, conforto e reassegura as crenças Cristãs. 

As referências do Livro de Mórmon a uma “grande e abominável igreja” traz conforto adicional para muitos protestantes que veem isso como um suporte a suas crenças de que a Igreja Católica foi corrompida e apostatou nos tempos medievais.

Americanos nacionalistas podem se regozijar ao aprenderem que os EUA são “uma terra escolhida acima de todas as outras”, que eles tem uma missão especial para cumprir no mundo, e ainda que a ninguém será permitido vir aqui sem a permissão de Deus.

Estranhamente, americanos “gentios” são também reassegurados pelo Livro de Mórmon que ao matar os remanescentes dos lamanitas (americanos nativos) e ao tirar suas terras, estavam apenas cumprindo uma parte do plano de Deus, que os puniu por seus pecados.

Racistas podem ainda encontrar conforto na doutrina que diz que Deus pune pessoas pecadoras com pele negra. Os termos “brancos e aprazíveis” e “negros e desprezíveis” são música aos ouvidos racistas.

Os Anti-Maçons eram um grupo político e social muito importante na época de publicação do Livro de Mórmon. A condenação das sociedades secretas juntamente com seus sinais secretos, aperto de mãos, e palavras-passe é um dos maiores temas do Livro de Mórmon. No livro consta que o próprio Satã introduziu essas coisas a Caim. Por isso o livro apela também a sentimentos anti-maçons.

No topo de nossa lista temos aqueles que tem mais tendência a ter uma forte resposta emocional (testemunho): os próprios Santos dos Últimos Dias. Os mórmons tem uma assustadora necessidade de acreditar na autenticidade do Livro de Mórmon, pois não há outra saída.

Mesmo aqueles que nunca leram o Livro de Mórmon tem de levantar e prestar seu testemunho nas reuniões, tem de dizer que SABEM que o livro é verdadeiro.  

Como pode um SUD, um adolescente, por exemplo, que está lendo o Livro de Mórmon pela primeira vez, olhar o livro com honestidade e objetividade quando quase tudo o que ele é depende de seu veredicto? Rejeitar o livro significaria ir contra os pais, amigos e vizinhos e tê-los todos contra você. Isso significaria que todos os grandes sacrifícios feitos pelos seus ancestrais e pelos pioneiros foram em vão. Isso significaria que Joseph Smith e outros líderes da igreja foram e são culpados de fraude e mentira num nível quase além da compreensão humana.

Objetividade Quase Impossível

Antes mesmo da maioria dos jovens SUD começar a ler o Livro de Mórmon, eles já viram centenas de pessoas, incluindo seus próprios pais e familiares, ficarem de pé nas reuniões da igreja e com convicção em suas vozes ou mesmo lágrimas em seus olhos, dizerem que “sabem” que esse livro é verdadeiro e que “sabem” que Joseph Smith foi um profeta de Deus. Isso torna muito difícil a um jovem, pela primeira vez lendo o livro, considerá-lo honestamente, objetivamente e com real intenção como sugerido por Morôni. É quase impossível.

Objetividade e honestidade são ainda mais difíceis para os jovens SUD que saem em missão de tempo integral. Esses jovens ficam desconfortáveis rapidamente ao menos que possuam um testemunho. Quando todos dizem nas reuniões de testemunho coisas do tipo: “Eu sei sem sombra de dúvida que Joseph viu Deus e Jesus Cristo, que ele foi um profeta de Deus, que o Livro de Mórmon é verdadeiro, etc,etc...” seria muito vergonhoso levantar e dizer algo como: “Eu nem ao menos tenho certeza que haviam placas de ouro”. Seria também vergonhoso dizer algo como: “Eu acredito que Joseph foi um profeta de Deus e que a igreja é verdadeira”.  

Acreditar não é o suficiente. Um missionário deve saber.

Muitos missionários sofrem grandes pressões de suas famílias para saírem em missão. Uma vez fora de casa, eles são postos em uma situação em que simplesmente tem de adquirir um “testemunho” para poderem escapar da dor da incerteza e também evitar o sentimento de hipocrisia ao dizer aos outros sobre Joseph e o Livro de Mórmon sem ao menos saber se são verdadeiras essas coisas. Nessas estressantes situações, quase todo o missionário de alguma maneira adquire um “testemunho”.

Uma Experiência Missionária

Um missionário retornado contou uma experiência que ele teve enquanto servia em uma missão. Esse jovem rapaz estava trabalhando muito perto de seu Presidente de Missão quando de repente duas Autoridades Gerais vindas de Salt Lake City chegaram. Depois de entrevistar o Presidente da Missão e algumas sisteres (mulheres missionárias), uma das Autoridades Gerais saiu num avião direto para Salt Lake levando o Presidente da Missão consigo. O outro ficou para assumir a missão enquanto alguém não fosse designado para a presidência.

Foi revelado que o Presidente de Missão, um homem extremamente espiritual, tinha chamado secretamente sete sisteres em seu escritório, uma por vez. Depois de fazê-las jurar segredo ele contava a cada uma delas que o Profeta estava mudando a política da igreja e iria restaurar o casamento plural (poligamia). O Presidente também disse a cada uma daquelas jovens que elas deveriam orar e jejuar para poderem receber uma revelação do Senhor concernente a essa questão, e depois deveriam aceitar se casar com ele.

Seguindo o exemplo de Joseph Smith, ele falou a essas moças que elas deveriam saber a verdade por si mesmas. Ele as aconselhou a jejuar e orar com um coração sincero e com o desejo de saber a vontade do Senhor.

Então uma coisa impressionante aconteceu. Seis das sete moças retornaram ao escritório do Presidente de Missão alguns dias mais tarde e, com lágrimas em seus olhos, disseram ter tido a confirmação do Senhor. Elas haviam recebido um testemunho de que ele falava a verdade. Cada uma delas expressou seu amor e aceitação do casamento. Elas aceitaram casar-se com ele, um homem com mais de três vezes a sua idade!

O Presidente de Missão foi excomungado. Todas as sisteres foram enviadas para casa, exceto aquela que não pode programar sua mente para acreditar naquela insanidade. Ela quebrou sua promessa e ligou para seus pais para pedir conselhos. Seus pais ligaram para as Autoridades Gerais para resolver o problema de sua filha. As Autoridades foram imediatamente enviadas para resolverem o problema.

Mas como tudo isso pode ser explicado? Onde foi que as seis sisteres que aceitaram o casamento buscaram seu “testemunho”? Seu Presidente estava mentindo e, mesmo assim, essas moças de alguma maneira tiveram um testemunho de que ele estava falando a verdade. Como tudo isso foi acontecer? Parte da resposta poderia ser que é perigoso confiar em uma figura de autoridade mais do que confiar em seus próprios pensamentos.

Jogos Mentais

Talvez algo aconteça na mente da pessoa quando ela jejua, fica sem dormir direito, ora por horas e horas, e ainda experimenta grande estresse físico, emocional, mental e espiritual. 

Muitas pessoas que tiveram essa experiência descrevem o sentimento de grande paz que obtiveram quando finalmente tomaram sua decisão. Eles normalmente interpretam essa paz psicológica como um sinal de aprovação divina, uma resposta para suas orações. 

Mas será que botar grande pressão mental e emocional é mesmo o jeito de Deus quebrar a vontade humana e forçar as pessoas a obedecer e se conformarem? Será que Jesus faria isso? Ou será que isso é mais um jogo mental usado conscientemente por manipuladores?

Eu acredito que muito cedo em sua vida, enquanto ia em reuniões religiosas, Joseph Smith observou a poderosa experiência psicológica, emocional e espiritual chamada de “testemunho”. Passado algum tempo ele usou esse estranho fenômeno em sua nova igreja. 

Era realmente simples. Tudo que Smith precisava fazer era botar as pessoas em situações ou posições estressantes, onde elas tivessem que fazer uma decisão muito importante, que afetaria suas vidas e as de seus descendentes, e então dizer a eles para orarem e jejuarem sobre ela. Na maioria das vezes as pessoas adquiriam um testemunho que agradava Smith. Poderia ser sobre as Placas de Ouro, sobre o Livro de Mórmon, um chamado de missão, poligamia, ou qualquer outra coisa. Joseph transformou o “testemunho” na pedra de esquina de sua religião.

Cultos e Testemunho

Mas testemunho e espiritualismo são também o poder por trás de cultos e do fundamentalismo. Milhares de membros de cultos e membros da igreja mórmon fundamentalista são dedicados e sinceros em sua fé. De onde vem seu testemunho? E qual a explicação aos testemunhos conflitantes? Muitos homens e mulheres afirmam saber ser a sua religião a verdadeira, a única religião que Deus aprova. Então a resposta final é que testemunhos não são de forma alguma confiáveis. A maioria deles é baseado em ignorância, sentimentos, mentiras e enganação.

A Verdade ou Somente Um Princípio Verdadeiro?

Alguns SUD afirmam ter ganhado seu testemunho enquanto liam uma parte particular do Livro de Mórmon. Mas esses leitores parecem não fazer distinção entre a verdade contida no livro e a autenticidade do livro. Eles parecem não entender que o Livro de Mórmon, assim como muitos outros livros, podem conter verdades que trazem lágrimas a nossos olhos, mesmo não sendo autênticos. Pode ser que o leitor esteja tendo uma forte reação emocional ou mesmo recebendo uma revelação divina que o princípio sendo ali ensinado é verdadeiro. Mas isso não significa que o Livro de Mórmon ou qualquer outro livro que produza   tais sentimentos é de fato baseado em acontecimentos reais.  

Por exemplo, quem consegue ler o livro de Charles Dickens que conta a história de um velho e solitário homem mesquinho, que se transforma numa pessoa amável e generosa pessoa no Natal sem ter uma resposta emocional? Mas será que isso significa que os seus personagens eram reais, e que existiram em algum tempo na história?

Razão x Emoção

E finalmente, para enfatizar a importância da razão e o perigo de confiar apenas nas emoções e sentimentos, gostaria de usar uma citação de um mestre de manipulação e oportunismo, Adolf Hitler:

“A razão pode traiçoeiramente enganar o homem, mas a emoção está sempre certa e nunca o deixa.”

Um dos braços direitos de Hitler, Rudolf Hess, falou o seguinte sobre seu amado Fuhrer para uma larga audiência de alemães:

“Não procurem Adolf Hitler com seus cérebros, vocês o encontrarão com seus coraçoes.”

Sob esse clima irracional, anti-intelectual e emocional, ocorreu o holocausto, onde milhões de pessoas foram mortas em campos de concentração e mais de 45 milhões mortas em batalhas na Segunda Guerra Mundial. Isso é o que pode acontecer quando um grande número de pessoas confiam na emoção e deixam que líderes autoritários pensem por elas!

E finalmente, nunca nos esqueçamos dessas palavras diabólicas de Adolf Hitler, “A razão pode traiçoeiramente enganar o homem, mas a emoção está sempre certa e nunca o deixa.”