Medo, obrigação, culpa e a busca da perfeição - parte 1

Texto traduxido e adaptado de Wake Up Call: Questioning Mormonism

O livro Emotional Blackmail, de Susan Forward, discute a manipulação baseada na obrigação, no medo e na culpa. O interessante é que um paralelo pode ser traçado facilmente com o mormonismo.

Na verdade, embora o cristianismo (e as religiões em geral) seja baseado nos princípios do amor e do perdão, o homem tem repetidamente transformado-o em algo que inspira medo, obrigação e culpa ao invés de amor e perdão.  

Por que isso? Por que usar medo, culpa ou obrigação para motivar nossas ações? Simplesmente para conseguir com que façamos a sua vontade. É porque quando nós permitimos, eles ganham poder através da manipulação.
 

O mormonismo é uma religião fundada em terreno movediço.  A história da Igreja envolve assuntos delicados como a poligamia, falsas escrituras, falsas profecias, e doutrinas contraditórias. 

Qual a melhor maneira de manter os membros da Igreja "na linha" do que incutir o medo de  leitura de material "anti-mórmon", e expor apenas os materiais "sancionados pela igreja"?

Os mórmons são orientados a evitar a associação com os "apóstatas" e são guiados a acreditarem que é um pecado fazer isso ou a questionar a doutrina. 

A Igreja Mórmon tem seus membros bem amarrados pela obrigação, medo e culpa, e como resultado, a igreja tem seguidores que não-questionam, que quase não-pensam, que seguem tudo que a igreja dita, desde alimentação, vestuário e rotinas diárias.

É tudo sobre controle.  O mesmo poderia ser dito sobre outras igrejas legalistas, mas acredito que a Igreja Mórmon é, de longe, a igreja mais controladora, legalista, fora daquilo que a maioria consideraria um culto. 

De fato, alguns argumentam que a Igreja Mórmon é um culto. Por quê? Pense sobre isso.  

Que tipo de organização controla um grupo de pessoas a tal ponto que eles sigam  um líder  "escolhido por Deus"  sem questionar, em relação a todos os aspectos da organização (roupas, alimentação, finanças, rituais, etc), dedicam tempo, dinheiro e muito de sua vida para a organização, fielmente evitam qualquer escrita, publicação, e mesmo provas científicas que a igreja "não aprova"?
 

O controle que a Igreja SUD tem sobre seus seguidores chega a ser incompreensível. Os membros da igreja são ensinados a ter plena confiança em seus dirigentes, porque "Deus nunca permitirá que um profeta desencaminhe o seu povo".  

Pense no que esse tipo de controle pode fazer. Se o profeta disser que  amanhã a poligamia deverá retornar, os SUDs fiéis irão obedecer, sem questionar. Se ele disser às pessoas que se reúnam em um determinado lugar ou se vistam de maneira diferente, eles farão isso. Se ele disse às pessoas para beberem um copo de vinho tinto fresco, eles o farão. Soa familiar?

O sistema é projetado para incultir total obediência.  

Os membros são obrigados a fazer "a vontade de Deus".  

Questionadores experienciam uma culpa esmagadora. Se eles continuarem a "pecar", experimentarão o medo de perder as bênçãos de Deus, o medo de ter sua "família eterna" dividida. 

É fácil compreender porque a depressão é tão comum entre os membros da Igreja. Por isso, Utah lidera o país em depressão e o suicídio é a principal causa de morte entre os homens de 15 a 44 anos no estado.

Também é fácil entender porque a apostasia é considerada um pecado tão horrível, e porque os membros da família respondem com tanta raiva e rancor quando alguém faz perguntas e /ou sai da igreja. É exatamente assim que um culto reage a um membro que o abandona.

A busca da perfeição

A doutrina mórmon de atingir a perfeição através de obras é uma das maiores diferenças entre o mormonismo e o resto do mundo cristão!  Assim, além da expiação, os SUDs só podem ser salvos por suas próprias ações (batismo,  casamento no templo, obedecer todos os mandamentos, ser ativo na igreja, etc). 

O fato é que nenhum de nós é perfeito e nunca seremos. Tentar ser perfeitos, aqui, nesta terra, e nos punirmos por cada erro, é simplesmente carregar um fardo desnecessário!
 

Como adolescentes, adultos, enfim, seres humanos, a futilidade de nossa própria imperfeição, sob o peso de tal fardo tão pesado, pode nos levar à uma depressão profunda. E muitos não percebem que, muitas vezes, a doutrina da perfeição é a raiz da depressão. Isso cria um ciclo vicioso, onde a culpa pela depressão (falta de fé, fraqueza espiritual) gera mais culpa e intensifica a depressão.

Ainda, o amor e respeito dentro do mormonismo é condicional: se você frequenta todas as atividades e assume todos os cargos possíveis, você é bem-visto. Em casos de depressão, onde isso não é possível,  os julgamentos e as condenações da família, dos membros e da liderança não tardam a chegar. 

Este comportamento não é apenas central na teologia Mórmon, mas também é a raiz da depressão entre os mórmons, especialmente entre as mulheres SUD.

O estresse do mormonismo em relação ao perfeccionismo é um dos seus aspectos mais prejudiciais.  

Esta ênfase vem do Sermão da Montanha, na sequência das "Bem-aventuranças", quando Cristo adverte aos seus ouvintes: "sede vós pois perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito." 

A Igreja interpreta a afirmação de Cristo no sentido de que os membros  SUD, como  falívelis seres humanos, devem ser perfeitos em tudo que fazem.  

Com base nessa interpretação, os membros da igreja muitas vezes se sentem culpados ou indignos, pois não conseguem fazer a suas  visitas, irem ao templo, manterem um diário, fazerem a sua genealogia, fazerem armazenamento, orarem diariamente, estudarem as escrituras diariamente, irem a todas as reuniões, pagarem o dízimo, aceitarem todos os cargo empurrados à eles na igreja, etc.

Eles também podem se sentir culpados se beberem bebidas com cafeína, usarem seus cabelos sobre suas orelhas (homens), usarem o garment de forma inapropriada ou não o usarem, tiverem pensamentos impuros, etc .

Infelizmente, essa interpretação foi tirada de seu contexto real. Cristo ensinava sobre amar os outros e a advertência de ser perfeito como Deus vem imediatamente após esses ensinamentos. Consideradas no contexto, Cristo estava apenas exortando seus seguidores a amarem os outros como Deus faz. Na verdade, as escrituras geralmente definem a perfeição como sendo o vínculo da caridade e / ou amor.

A igreja leva a afirmação de Cristo ainda mais longe, ao ensinar que uma pessoa não pode entrar na presença de Deus se ela  não for perfeita.  

Como o rabino Kushner observa na citação abaixo, esse ensino é ainda mais insidioso do que simplesmente ensinar que devemos lutar pela perfeição, porque isso implica que não somos dignos do amor de Deus, se não formos perfeitos:

"Muita miséria pode ser atribuída a essa noção equivocada: é preciso ser perfeito para que as pessoas nos ame, e perdemos esse amor se alguma vez ficarmos aquém da perfeição. Há poucas emoções mais capazes de nos deixar péssimos do que a convicção de que nós não merecemos ser amados, e algumas formas de gerar essa convicção é que, cada vez que fazemos algo errado, nós damos a Deus e às pessoas mais próximas  motivos para não nos amarem ... Sinto-me envergonhado pelo uso da religião para induzir culpa ao invés de curá-la..."

Os ensinamentos da Igreja sobre o perfeccionismo são ainda mais insidiosos porque assumem que o amor de Deus é condicional. Na verdade, esta não uma suposição no Mormonismo - É doutrina. De acordo com o apóstolo Russell M. Nelson, o amor de Deus é condicional e subordinado à obediência aos Seus mandamentos. Veja AQUI.

Considerando este aspecto, o Deus Mórmon é emocionalmente abusivo ao extremo.  Você pode imaginar qualquer pai dizendo a seu filho ou filha que:
 

"Você tem que me agradar sempre. Você deve obedecer com exatidão cada pedido ou mandamento que lhe dou, independentemente do quão difícil seja para você ou como você se sente sobre isso. 

"Você sempre realizará primeiramente a minha vontade, não importa o que você esteja fazendo ou como esteja se sentindo. Você deve estar sempre alegre quando fizer o que eu disser para você fazer.  

 

"Você não pode reclamar ou questionar, mesmo que pareça errado. Você deve acreditar em tudo o que eu digo, mesmo se não fizer sentido ou for contraditório com os fatos ou om o que você observa. 

   

"Se você não conseguir fazer nenhuma dessas coisas perfeitamente, eu não o amo mais. Eu também irei puni-lo severamente e você não será mais digno de mim ou de estar em minha presença."

 

Isso não faz qualquer sentido!!!!

Um dos aspectos libertadores de não mais acreditar no mormonismo é que podemos ser humano sem tentarmos ser perfeito. 

Não devemos sentir uma culpa desnecessária por nossos erros. Devemos reconhecê-los, aprender com eles e seguir em frente sem ter de nos preocuparmos se somos ou não dignos do amor de Deus.  

Somos livres para nos aceitarmos como somos e pelo que somos. Também somos livres para aceitarmos e amarmos os outros como eles são e por aquilo que são, sem qualquer rotulagem ou julgamento.