Texto de DB - A Verdade SUD
Há tempos  que penso em escrever algo mais "pessoal", que conte um pouco da minha  vida, e da luta que tive que travar para conseguir me livrar dos dogmas  impostos durante a minha infância e adolescência. 
Permaneço  no anonimato por razões óbvias. Na língua inglesa existe uma expressão  que resume, quase que completamente, a minha situação: "closet doubter".  Traduzindo significa "questionador no armário", ou seja, ninguém sabe  da minha real posição sobre a igreja, tirando alguns poucos com quem já  tive a liberdade de falar abertamente sobre meus questionamentos.
Voltando ao tema central: a doutrinação infantil - seus males  podem ser vistos e sentidos em minha vida. Apesar de ter certeza da  minha posição atual - que a igreja não é o que eu sempre acreditei que  fosse - ainda consigo ficar abalado no que tange a certos aspectos da  cultura SUD.
Quando,  por exemplo, escuto hinos como "Vinde, Ó Santos" ou "Tal Como um  Facho", me emociono profundamente, é como se lá dentro, no fundo da  minha mente, eu ainda desejasse que a igreja fosse o que ela afirma  ser. 
Algum  crente mais ávido poderia declarar: "Aí está o seu testemunho" ou "  Essa é a confirmação do Espírito Santo". Mas não sou mais tão ingênuo.  Isso já funcionou durante muito tempo, e ainda funciona com certas  pessoas. Esse "truque" já é amplamente utilizado pelos missionários SUD.  Apenas se emocione, "sinta" o espírito, ore até sentir algo, e quando  você sentir, será o Espírito Santo testificando da verdade.
Como  um bom estudante de psicologia, eu poderia aqui listar razões e mais  razões de isso ser completamente irracional, chegando quase ao ponto  patológico. Não é de se estranhar que quase não existam psicólogos no  meio SUD. Posso ter sentimentos sobre a veracidade da cadeira em que eu  estou sentado, se eu assim desejar. Sentimentos não são de maneira  alguma confiáveis.
Sim,  eu ainda me emociono com alguns aspectos da cultura SUD, mas o que mais  poderia se esperar? De onde vem essa emoção? Certamente dos anos de  doutrinação infantil. 
Escuto esses hinos desde quando consigo lembrar, eles eram cantados pela minha mãe antes de dormir, eram cantados em nossas reuniões familiares, é um tanto óbvio que me causem emoções. Ou talvez eu pudesse me enganar dizendo que é o Espírito. Mas qual a lógica nisso?
Todos precisamos da realidade, os contos de fadas eram bonitos apenas na nossa infância. Um adulto que ainda acredite nesse tipo de intervenção divina está fadado a permanecer em um estado infantil.
Escuto esses hinos desde quando consigo lembrar, eles eram cantados pela minha mãe antes de dormir, eram cantados em nossas reuniões familiares, é um tanto óbvio que me causem emoções. Ou talvez eu pudesse me enganar dizendo que é o Espírito. Mas qual a lógica nisso?
Todos precisamos da realidade, os contos de fadas eram bonitos apenas na nossa infância. Um adulto que ainda acredite nesse tipo de intervenção divina está fadado a permanecer em um estado infantil.
Falando  sobre esse assunto, gosto muito de um texto em que o Professor Richard  Dawkins, especialista em biologia evolutiva pela universidade de Oxford,  explica a razão da doutrinação infantil ser tão eficaz, não só no meio  mórmon, mas em qualquer religião. Segue-se uma parte desse texto: 
"A seleção natural constrói o cérebro das crianças com a tendência de acreditar em tudo que seus pais ou líderes tribais lhes disserem. Tais confiança e obediência são valiosas para a sobrevivência. Mas o lado ruim da obediência insuspeita é a credulidade escrava. O subproduto inevitável é a vulnerabilidade à infecção por vírus mentais.
" Por ótimos motivos ligados à sobrevivência darwiniana, o cérebro das crianças precisa confiar nos pais, e nos sábios em quem os pais as orientam a confiar. Uma conseqüência automática é que aquele que confia não tem como distinguir os bons conselhos dos maus.
" A criança não tem como saber que "Não nade no rio infestado de crocodilos" é um bom conselho, mas que "Você deve sacrificar um cabrito na época da lua cheia, senão as chuvas não virão" é no mínimo um desperdício de tempo e de cabritos.
" As duas advertências soam igualmente confiáveis. As duas vêm de uma fonte respeitável e são feitas com uma honestidade solene que pede respeito e exige obediência. O mesmo acontece com proposições sobre o mundo, sobre o cosmos, sobre moralidade e sobre a natureza humana. E, muito provavelmente, quando a criança crescer e tiver seus próprios filhos, ela vai naturalmente transmitir boa parte para os filhos — absurdos ou não-absurdos — usando a mesma gravidade contagiosa.
"Líderes religiosos conhecem bem a vulnerabilidade do cérebro infantil e a importância de começar cedo com o doutrinamento. O lema jesuíta "Dê-me uma criança pelos seus primeiros sete anos de vida e eu devolverei um homem" não é menos preciso (ou sinistro) por ser batido."
Dawkins  explica, de uma maneira simples, o motivo da doutrinação infantil ser  tão eficaz. É óbvio que a criança acreditará o que seus pais ou líderes  disserem. E é justamente por isso que a maioria dos "nascidos" na igreja  jamais irá se questionar sobre a veracidade da mesma. 
Nós  vimos nossos pais, avós, amigos, professores e líderes testificando da  veracidade do Livro de Mórmon, do chamado profético de Joseph Smith,  etc. Por que duvidaríamos das pessoas em que mais confiamos?
E  não é de se admirar que as pessoas sigam mesmo o profeta cegamente,  muitas passaram o seu tempo de primária cantando: Segue o profeta, segue  o profeta, sem hesitar... Segue o profeta, segue o profeta, não vais  errar".
Por mais emoções que eu sinta, minha mente jamais deixará de pensar criticamente, de pensar livremente. E é por sufocar o pensamento  crítico, ensinando desde a infância que a fé cega na igreja e nos  líderes é algo bom e desejável, que o fundamentalismo ainda vigora no  meio SUD. 

Investigadora,
ResponderExcluirFico muito feliz que meu textos possam ser usados no seu blog. Assim ele pode ajudar mais pessoas, além de complementar essa verdadeira "enciclopédia" online que é o seu blog (que a cada dia está melhor).
Um abraço,
DB
Caro DB
ResponderExcluirSeus textos são magníficos, e reitero a importância deles para todos.
Por isso, quanto mais fontes disponibilizarem-nos, maiores as chances de serem lidos.
E obrigada por partilharsuas idéias conosco.
Abs