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By Ferramentas Blog

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sexta-feira, 30 de março de 2012

Testemunho 16 - GM

Lembro que determinada vez o presidente Hinckley veio ao Brasil , acho que isso foi em novembro de 1996 (não estou totalmente certo quanto à data) . O evento foi no estádio do Morumbi em São Paulo. Na estaca que eu freqüentava na época foi organizada uma caravana, da qual eu participei, para ir ver o profeta.
No dia assisti primeiro os discursos de outros oradores,lembro que nada que foi dito me chamou muita a atenção, quando foi anunciado a vez do Presidente Hinckley discursar fiquei alegre pois estava com grande expectativa de ouví-lo. 

O presidente Hinckley começou a falar, falou, falou, falou ... e nada do que ele dizia me chamava a atenção. Comecei a ficar preocupado, pois havíamos sido orientados que quando uma autoridade discursa nós devemos ter caneta e papel na mão para anotar os principais pontos do discurso, notei que as pessoas perto de mim (da mesma estaca) estavam escrevendo um monte de coisas e eu não tinha escrito nada, então resolvi começar a escrever também, mas sinceramente o discurso estava bem abaixo das minhas expectativas.


Ao voltar para casa, lembro que os membros que participaram da caravana começaram a contar sobre a alegria de estar na presença do profeta, de como sentiram o espírito forte naquele dia. Na verdade percebi que muitos que participaram da caravana começaram a fazer propaganda deles mesmos pelo fato de terem viajado para ver o profeta, cada conversa, cada testemunho prestado, cada comentário feito na escola dominical virava pretexto para mencionarem a viagem para São Paulo.


Eu não tinha sentido nada aquele dia, olhei minhas anotações que fiz do discurso e não tinha nada de relevante, até que caí na besteira de comentar perto de alguns membros que eu não tinha achado nada de especial no discurso do presidente e que não senti o espírito enquanto ele discursava. Recebi olhares de reprovação, foi-me dito que se eu não tinha sentido o espírito a culpa era minha, que eu é que não tinha ido como espírito correto para São Paulo , que eu tinha que ter me preparado espiritualmente para ver o profeta, .. blá, blá,blá.

Bom, o fato é que eu cedi à pressão e passei então a elogiar o discurso do profeta. E esta é uma das piores coisas que um ser humano pode fazer, pensar uma coisa e falar outra, fingir. Na verdade eu comecei a achar que havia alguma coisa errada comigo, que se eu não senti o espírito naquele dia, a culpa era minha.
Hoje, passados mais de 15 anos, a comparação que faço do ocorrido refere-se ao conto “As Roupas Novas do Imperador” (para quem não conhece este conto, é bem fácil encontrá-lo na internet) ... afinal somente as pessoas “inteligentes” é que conseguiam enxergar a “profundidade das palavras do profeta e sentir o espírito”. Na época eu não tinha compreendido isto muito bem, mas para mim o rei estava nú.
As coisas foram se somando, na minha estaca parecia haver...digamos assim... uma espécie de competição informal para ver quem era o mais santo. 

Acontecia mais ou menos assim, nós tínhamos a palavra de sabedoria que era um “mandamento” , e também tínhamos um conselho das autoridades para não beber coca-cola (era só um conselho) . Muitos membros pararam de tomar coca-cola, e tinham muito orgulho disso, pois estavam “andando a segunda milha”. Também teve, p. exemplo, um irmão que disse que fazia jejum de 2 dias. Parece que quanto mais regras uma pessoa seguia, mais santa era, o importante era impor mais restrições na vida. Aliás a igreja começou a me parecer simplesmente um conjunto de regras a serem seguidas. Isto é algo que agradava a alguns, pois é mais simples se tornar uma pessoa digna que agrada a Deus ...Se você não toma café é digno, se toma é indigno; se paga o dízimo é digno, se não é indigno. Obedecer a regras e colocar restrições na vida é mais importante do que respeitar o próximo. Os mórmons se acham mais dignos que todo mundo, afinal eles seguem um conjuntinho de regras (muitos fingem que seguem).


O fato de eu ter me libertado das doutrinas preconceituosas da igreja ( e do Elder Body “Que Peca”) para mim já é motivo de grande alegria, hoje me sinto mais leve, assim eu acredito que você deva se casar com a pessoa que vai te fazer feliz, a nacionalidade ou a raça desta pessoa não é importante, até porque segundo o que tenho aprendido o conceito de raças não se aplica ao seres humanos, http://www.culturabrasil.org/racismo.htm


Todos nós somos simplesmente seres humanos, só isso. Acredito também que se você não deseja se casar e quiser permanecer solteiro a vida inteira, tudo bem , você não irá sofrer nenhuma condenação por isso. E se você quiser se casar, case-se quando você achar mais conveniente – não precisa se casar o quanto antes conforme ensinam os líderes da igreja, e se você casar e não quiser ter filhos, simplesmente não tenha. Hoje isso me parece tão simples, tão obvio que eu não sei como eu fui acreditar naquelas bobagens que eu ouvia na igreja. Como foi bom para mim me libertar de preconceitos, hoje não tenho raiva dos homossexuais, não acho que determinada religião seja do demônio ( Bruce R. McConkie alegou que determinadas doutrinas de outras igrejas eram de procedência demoníaca).


Como é bom não ter que tomar por verdade absoluta aquilo que os líderes “inspirados” falam. Lembro que quando eu fazia de mestre familiar era assim, nós tínhamos que dar uma mensagem para a família que estávamos visitando, a qual tinha que ser preferencialmente baseada na mensagem da primeira presidência que estava na Liahona. Algumas vezes eu lia a tal mensagem da primeira presidência e achava tão fraca e sem conteúdo que era até difícil preparar o que falar p/ as famílias. Os líderes da igreja não tem nada para ensinar.


Ví no youtube uma entrevista do presidente Hinckley, como ele foi mal! Por diversas vezes respondeu : “Eu não sei” – como pode o profeta, vidente e revelador não saber de coisas que deveriam ser básicas

Investigadora, eu estava lendo o “Tetemunho 12 – Fernanda”. Fico feliz que mais pessoas percebam a verdade sobre a igreja mórmon. Para uma pessoa como a Fernanda, que tem um quadro da primeira visão na sala e estava se preparando para ir para missão, deve estar sendo um processo doloroso. Mas ainda bem que ela descobriu tudo antes de se tornar missionária.


Uma vez conversei com um outro ex-missionário que se afastou da igreja e ele me disse que estava pensando em entrar com um processo judicial contra a igreja para receber pelos dois anos que ele trabalhou como missionário (quando alguém sai para a missão é deixado claro que é trabalho voluntário, não remunerado. Mas ele pretendia alegar que tinha sido enganado pela igreja). Ele até me convidou para ajuizar a ação em conjunto com ele, mas eu recusei. 

Para ser sincero, até que me incomoda ter trabalhado 2 anos de graça para a igreja, acordar todo dia cedo, colocar a gravata e sair pelas ruas procurando novos conversos. Mas o fato de ter trabalhado de graça em si não é o que mais me incomodou e sim o fato de ter ensinado um monte de besteiras...mentiras para as pessoas. Se possível fosse, gostaria de rever todas as pessoas que ensinei na missão e pedir desculpas. Um chavão que existia entre os missionários era de que a maior alegria da missão é poder ver a vida das pessoas (que aceitam se batizar)se transformando . Isto é outra ilusão , a igreja mórmon não provoca transformação na vida de ninguém. Se muda, muda para pior, pois quem se batiza será obrigado a seguir as regras da igreja, e acreditar em tudo que os líderes falam. Portanto foi uma grande sorte para a Fernanda ter desistido da igreja e da missão.


Espero que a Fernanda seja forte e agüente a pressão. Lembro quando me afastei , alguns membros vieram tentar me convencer de forma amorosa: - “Estamos sentido sua falta na igreja...”. Outros vieram com ameaças:- “Você está colocando em risco a sua exaltação”. Mas o pior mesmo foi a chantagem emocional, quando me afastei a minha mãe já era falecida e uma irmã me disse: - “Tenho certeza que sua mãe está te vendo, e lá no mundo espiritual ela está torcendo para você continuar perseverando na igreja”.


Com eu disse seu blog é muito útil, foi útil para a Fernanda e para todas as pessoas que querem saber mais sobre a igreja. Eu já conhecia muitas das coisas que estão no Blog (algumas ainda eram novidade). Mas como eu disse, gosto muito de ler sobre a experiência de outras pessoas que deixaram a igreja. E para mim , apesar de ter me afastado já a alguns anos, é muito bom poder postar sobre um pouco das minhas experiências, serve de desabafo.


Um abraço,

GM

2 comentários:

  1. Investigadora, quero te agradecer, que surpresa agradavel ver o meu testemunho aqui.
    Frequentei a igreja por muitos anos e vi muita coisa errada, acho que fosse para contar tudo daria para escrever um livro. Só que eu ia relevando, relevando... mas chegou um ponto que não havia mais condições de continuar acreditando na igreja.
    Já faz mais de 13 anos que me afastei, mas me fez muito bem escrever sobre alguns dos motivos que me levaram ao afastamento.

    Estou bem melhor sem a igreja!

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  2. Caro GM

    Esse espaço pertence à vocês, e essas histórias de vida são muito elucidativas. Na realidade, completam, e muito, o blog.

    Portanto, sou eu quem agradece por vocês compartilharem suas histórias. Algumas são doloridas, outras são inconformadas, outras são apenas uma lembraça que ficou no passado, mas todas são importantíssimas!

    Abs

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