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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As religiões e Joseph Smith

As religiões e Joseph Smith

Texto traduzido e adaptado de

No Men Knows my History (Nova Iorque: Vintage Books, 1995) de Fawn M. Brodie (1915-1981), pp. 1-15.


Joseph Smith não foi uma mutação, produzida pela natureza sem ligação a ancestrais ou à cultura provincial do seu Estado. Ele foi um produto de Nova Inglaterra.

Há muito sobre ele que só pode ser explicado pelo solo estéril, pela magia tradicional das parteiras e dos adivinhos que usavam bolas de cristal, e a disciplina sóbria dos mestres das escolas.
 
Os seus ancestrais estavam na Nova Inglaterra havia mais de um século. 

Robert Smith tinha vindo para Massachusetts em 1638 e John Mack em 1669 e migraram para Vermont - esta é uma história de desintegração, não só de uma família mas de toda uma cultura.

Durante o século e meio em que os descendentes de Robert Smith viveram em Topsfield, foram conservadores, respeitáveis, ativos na política local e moderadamente prósperos. 

Asael Smith, avô de Joseph, foi o primeiro a responder à inquietação que se seguiu ao despertar da Revolução. As antigas tradições sociais e morais em Massachusetts estavam desmoronando-se à medida que as idéias que tinham separado as colônias de Inglaterra se infiltravam na igreja.
Tal como muitos outros nesse tempo, Asael dizia-se cristão mas era basicamente irreligioso. 

"Quanto à religião", escreveu ele aos seus filhos, "eu não desejaria indicar qualquer forma particular para vocês; mas primeiro desejaria que procurassem nas Escrituras e consultassem o raciocínio sólido.... Qualquer chamada honesta honrá-los-á se honrarem isso. É melhor ser um sapateiro rico do que um comerciante pobre; um agricultor rico do que um pregador pobre."1

Na idade madura ele deixou Massachusetts para limpar um lote nas florestas virgens das Green Mountains, e com ele foi seu filho Joseph (pai do profeta Mórmon). Eles cortaram e queimaram a madeira, e tal como os seus vizinhos migrantes, contaram a colheita.

Em 1789, um ministro de Connecticut que viajava por Vermont escreveu: 

"As palavras não podem descrever as dificuldades por que passo. Pessoas desagradáveis, pobres, vivendo mal, indelicadas e miseráveis cozinheiras. Todos tristemente parcimoniosos -- muitos profanos -- e apesar disto, bem dispostos e muito mais contentes do que em Hartford. E as mulheres mais contentes do que os homens, escurecidos pelo fumo das cabanas de troncos -- vestem-se de forma grosseira, má, desagradável e esfarrapada... 

"No entanto as mulheres [são] sossegadas, serenas, pacíficas, contentes, amando os seus maridos, o seu lar, nunca desejando voltar atrás -- sem quaisquer vestimentas elegantes.

"Eu penso: que estranho! Pergunto-me se estas mulheres são da mesma espécie das nossas senhoras finas? Embora sejam, com membros fortes, estas garotas indelicadas  suportam trabalho tão bem como mulas."2

Pouco depois de Perkins ter registado a sua mistura de admiração e aversão, Joseph Smith conheceu e casou com uma filha desta estirpe. 

O pai dela, Solomon Mack, era um filho da má sorte. Embora Solomon viesse de uma linha de clérigos escoceses, a pobreza tinha-o afastado do seminário, e ele tinha crescido numa vila sem instrução nem religião -- nas suas próprias palavras, "como um potro de um asno selvagem". 

Ele tinha lutado nas Guerras Francesa e Indiana, e depois na Revolução, com os seus dois filhos, Jason e Stephen. Mas quando a sua filha Lucy se casou, Solomon era um velho pobre e reumático que cavalgava pelo campo e falava sobre escrever as memórias das suas provações e desventuras.

A coisa surpreendente sobre o avô materno de Joseph Smith é que ele de fato foi bem sucedido, quando tinha setenta e oito anos de idade, ao publicar o seu livro de contos: Uma Narrativa sobre a Vida de Solomon Mack, contendo um relato dos muitos acidentes graves que teve durante uma longa série de anos, junto com a maneira extraordinária como foi convertido à Fé Cristã. Ao qual foram acrescentados vários Hinos, compostos no momento do falecimento de vários das suas relações.3 

A má ortografia e os hinos infelizes foram eclipsados pela realização substancial da própria escrita. Deu um estatuto à família. Em anos posteriores, Lucy podia ler o livro sucessivamente a cada um dos seus nove filhos, apontando para ele como prova de que o sangue dos Mack era algo mais do que comum.

E isso estabeleceu um precedente na família. O manto da autoria haveria de cair não só sobre Solomon, o avô, mas também sobre Lucy, sobre o seu filho Joseph, e de fato sobre o seu filho e neto -- uma tradição ininterrupta durante cinco gerações. 

Nem Solomon nem a sua filha tiveram muita instrução formal, mas o impulso para a auto expressão era forte neles, e o fato de ambos terem casado com professores compensou em parte a ausência de instrução formal.

Solomon Mack admitiu na sua Narrativa que tinha sofrido de desmaios, e isto foi aproveitado por biógrafos ansiosos por explicar as supostas aberrações do neto em termos de uma instabilidade congênita. 


Como dissidentes religiosos, eles acreditavam mais na integridade da experiência religiosa individual do que na tradição de alguma seita organizada. Na sua velhice, Solomon caiu numa espécie de misticismo senil, com luzes e vozes assombrando a sua cama de doente. 

Jason Mack, irmão mais velho de Lucy, foi nitidamente contra as tradições religiosas e econômicas da Nova Inglaterra quando se tornou um "Seeker" e estabeleceu em Nova Brunswick uma sociedade quase comunista de trinta famílias indigentes, cujo bem estar econômico e espiritual ele procurou dirigir.4

Jason, porém, não recebeu dos historiadores Mórmons a atenção que tem sido devotada a outros irmãos de Lucy. Enquando a origem do profeta Mórmon é dita inativa, esbanjadora e degenerada, Stephen Mack é citado triunfantemente como prova em contrário. 

Ele fez fortuna em Detroit e deixou propriedades no valor de cinquenta mil dólares no momento da sua morte. Ele tinha prosperado mesmo antes de ter deixado Vermont, pois forneceu a Lucy o dote que o pai não podia providenciar. 

Os mil dólares que ele e o seu sócio lhe deram logo depois do casamento tornaram a moça -- considerando que isto era Vermont em 1796 -- praticamente uma herdeira.


Joseph e Lucy uniram no seu casamento as heterodoxias divergentes dos seus pais, que eram reações ao calvinismo de alma cauterizada de Jonathan Edwards. 

"Passei muito do meu tempo", escreveu Lucy em anos posteriores, "lendo a Bíblia e orando; mas, não obstante a minha grande ansiedade em experimentar uma mudança de coração, outro assunto interpunha-se sempre em todas as minhas meditações. Se eu continuar não sendo membro de nenhuma igreja, todas as pessoas religiosas dirão que sou do mundo; e se eu me juntar a alguma das várias denominações, todos os outros dirão que estou em erro. Nenhuma igreja admitirá que estou correta, exceto aquela com a qual estou associada. Isto torna-os testemunhas uns contra os outros."5 

Esta era a lógica universal da dissensão, uma convicção partilhada por milhares de habitantes de Nova Inglaterra neste período. Lucy tinha uma mente vigorosa, embora não treinada, e a crença dela era simplesmente o âmago do anti-nomianismo -- a vida interior é uma lei em si mesma. A liberdade e integridade da experiência religiosa têm de ser preservadas a todo o custo.6

Joseph e Lucy passaram vinte anos juntos na Nova Inglaterra. No entanto, nenhum deles se juntou a uma denominação ou professou mais do que um interesse passageiro em qualquer seita. 

Os reavivamentos metodistas em Vermont em 1810 excitaram Lucy durante algum tempo, mas apenas convenceram ainda mais Joseph 

"de que não há ordem ou classe de religiosos que saiba mais a respeito do reino de Deus do que aqueles do mundo."

Ele refletia aquele desprezo pela igreja estabelecida que tinha permeado a Revolução, que tinha feito o governo federal completamente secular, e que por fim haveria de divorciar a igreja do governo em todos os Estados. 

Na liberdade do Novo Mundo, a igreja tinha-se desintegrado, as suas cerimônias tinham mudado e a sua estatura tinha declinado. 

O pai de Joseph, Asael, tinha-se gloriado francamente na sua liberdade da tirania eclesiástica. O filho manteve-se desinteressado por todas as igrejas, exceto pela qual foi organizada pelo seu próprio filho, voltando-se antes para os seus próprios sonhos -- chamados "visões" pela sua esposa -- para direção espiritual.

Lucy era especialmente devotada ao misticismo, muitas vezes encontrado entre aqueles subitamente libertados do domínio e disciplina de uma igreja. 

Tal como o seu pai, ela aceitou um Deus altamente personalizado para quem falava como se Ele fosse um membro do círculo familiar. A religião dela era íntima e caseira, com Deus como presença ubíqua invadindo os sonhos, provocando milagres e crestando os campos dos pecadores. Os filhos dela provavelmente nunca aprenderam a temê-lo.
Se Joseph e Lucy Smith tivessem ficado em Nova Inglaterra nos segundos vinte anos da sua vida de casados, poderiam, tal como os seus avós, terem-se estabelecido e caído num respeitável esquecimento. 


O apelo da região de Genesee e dos Lagos Finger já estavam mexendo com o sangue dos jovens homens da Nova Inglaterra quando este casal proferiu os seus votos matrimoniais. E os acontecimentos moveram-nos lenta mas inexoravelmente para a onda que estava deslocando-se para o Oeste.
Depois de seis anos lavrando um terreno rochoso no leste de Vermont, eles estabeleceram uma loja em Randolph. Aqui Joseph Smith Sênior, ouviu pela primeira vez sobre os fantásticos lucros que caíam nas mãos dos especuladores que exortavam o ginseng aromático, a raiz de uma planta que crescia naturalmente nas Montanhas Verdes. 

Os habitantes de Nova Inglaterra preferiam salsa-parrilha, sêlo-de-Salomão, maidenhair, raiz de pleurisia e skunk cabbage, mas na China o ginseng era considerado um remédio para tudo, desde tonturas a pleurisia. 

Agricultores de Vermont estavam vendendo-o para exportação a dois xelins cada libra, e uma raiz com a forma do corpo de um homem tinha venda garantida na China, onde era apreciada como cura para virilidade em declínio, por duzentos a quatrocentos dólares.

Joseph investiu todo o seu dinheiro num carregamento de ginseng. Lucy escreveu que o agente a quem confiaram a carga voltou da China com muito dinheiro mas fugiu para o Canadá, deixando-os sem dinheiro.7 

O seu marido tinha perdido recentemente 2.000 dólares em créditos não cobrados e devia 1.800 dólares a comerciantes de Boston. Para satisfazer os seus credores, ele vendeu suas terras por 800 dólares e Lucy cobriu o que faltava com o seu dote. Nesta altura, a família começou as suas peregrinações, primeiro para Royalton e depois para Sharon, onde Joseph alugou o sítio do seu sogro e complementou as suas magras receitas dando aulas durante o inverno.

Lucy tinha dado à luz dois filhos e uma filha, e em 23 de dezembro de 1805 nasceu-lhe um terceiro filho. Quando ele chegou, não apareceu qualquer cometa no céu; nenhum rebate alvoroçou o campo. Ele foi aceito naquela fria noite de inverno provavelmente com mais resignação do que deleite, e sem cerimônias indevidas chamaram-lhe Joseph Smith, nome igual ao do seu pai.
No seu quinto aniversário a família tinha-se mudado três vezes, de Sharon de volta para Randolph, e depois novamente para Royalton, e finalmente para Lebanon, do outro lado da fronteira de New Hampshire.


Falsificadores infestavam a área, enganado os incautos e fugindo pela fronteira ao menor sinal de perseguição. 



Quando a família se mudou para Lebanon, New Hampshire, a sua sorte melhorou. Hyrum, o segundo filho, foi enviado para a Moore's Academy em Hanover. Mas ele trouxe da escola para casa uma febre que estava devastando todo o campo em 1813. 

Foi esta febre que causou as complicações na perna de Joseph, e que o obrigou a passar por uma brutal cirurgia para não precisar amputá-la. Pode ter sido este sofrimento que fez com que Lucy fosse mais afeiçoada a Joseph do que aos seus outros filhos. Eram esperadas grandes coisas da criança cujo ânimo tinha sido testado num sofrimento tão temível.
Quando a convalescença do rapaz parecia tardar, ele foi enviado para um tio em Salem, recuperou-se rapidamente e voltou para Lebanon apenas com um coxear quase imperceptível que, no entanto, ficou com ele para o resto da vida.





Uma nova mudança, agora para Palmyra, levaria a família a novas experiências espirituais.


A cidade de Canandaigua, vinte quilômetros ao sul, era maior e orgulhava-se de ter uma academia com vinte anos, dois "respeitáveis seminários privados para mulheres", cinco escolas comuns, três bibliotecas, trinta e nove armazéns, setenta e seis lojas, três igrejas e passeios pavimentados. 

E a aldeia de Manchester, em cujas fronteiras os Smiths acabaram por se estabelecer, tinha não só uma escola e uma biblioteca de cidade de seiscentos volumes, mas também uma fábrica de lã, um moinho de farinha, uma fábrica de papel e uma incineradora.




Os vastos recursos do interior suscitaram as fantasias mais indolentes, e um otimismo que se tornaria fundamental no pensamento americano durante cem anos varria agora os Estados Unidos. 



Junto com o otimismo havia um patriotismo militante. O Oeste acreditava que a América era a maior das nações porque a sua democracia era baseada nas leis da natureza, e que se tornaria firmemente mais perfeita e o seu povo mais purificado até que todo o mundo seguisse o seu exemplo. 


Porém, a comunidade estava instável: os emigrantes de Nova Inglaterra eram os aventureiros, os descontentes, os inconformados. Os velhos costumes que eles traziam para as jovens comunidades tinham tendência a ser vergados e distorcidos pela nova liberdade.
 

Os Metodistas dividiram-se quatro vezes entre 1814 e 1830. Os Batistas dividiram-se em Batistas Reformados, Batistas Hard-Shell, Batistas do Livre Arbítrio, Batistas do Sétimo Dia, Lavadores de Pés, e outras seitas. A liberdade religiosa irrestrita começou a dar origem a uma legião de novas religiões.
Carregados na migração, tinham vindo os destroços dos piedosos. Havia Isaac Bullard, apenas vestido com uma faixa de pele de urso e a sua barba, que juntou um séquito de "Peregrinos" em 1817 em Woodstock, Vermont, a pouca distância da terra dos Smiths. 

Campeão do amor livre e do comunismo, ele encarava a lavagem como um pecado e orgulhava-se por não ter mudado as suas roupas por sete anos. 

Abandonando Vermont em direção à terra prometida, os Peregrinos cruzaram as montanhas, entrando em Nova Iorque e seguiram por Ohio até Missouri.
Havia Ann Lee, mãe dos Shakers, que se auto-intitulava o Cristo reencarnado e que tinha fugido com os seus comunistas celibatários da fúria de Nova Inglaterra. 

Na atmosfera religiosa do Estado de Nova Iorque, a seita dela floresceu e espalhou-se. Em 1826 alguns Shakers construíram salões comunitários em Sodus Bay, apenas a cinquenta quilômetros de Palmyra. 

O jovem Joseph Smith pode ter passado uma noite na confusa dança processional deles, observando primeiro um e depois outro afastar-se e rodopiar como um dervixe até cair exausto no chão, proferindo palavras incoerentes as quais se referiam como "o dom de línguas". 

Onde quer que os Shakers se instalassem, circulavam os mitos obscenos dos seus costumes: uns diziam que castravam os seus filhos, outros que eles se despiam e dançavam nus nas reuniões, que se entregavam a deboches promíscuos, e que praticavam infanticídio.
Apesar de toda a sua incongruência, os Shakers tinham uma certa dignidade, que vinha dos seus hábitos limpos e trabalho intenso. 

Isso não era verdade no caso da comitiva de outra subdivindade feminina que reinava em Jerusalém, a quarenta quilômetros da casa de Joseph Smith. Esta era Jemima Wilkinson, a "Amiga Universal", que se julgava o Cristo. 

Apesar do jornal de Palmyra antipaticamente usar o prefixo  "anti" e chamá-la de impostora, ela governava a sua colônia através de revelações do céu e jurava que nunca morreria. 

 Os rumores diziam que embora ela não soubesse ler nem escrever, podia recitar de cor toda a Bíblia por ter esta sido lida para ela. 

O principal auxiliar de Jemima, a quem ela chamava Profeta Elias, amarrava com força um cinto sobre a sua cintura, e quando a sua barriga começava a inchar em protesto, ele ficava cheio de visões proféticas.
Dois anos depois de os Smiths chegarem ao Condado de Ontario, a vizinhança ficou excitada com rumores que diziam que "a Amiga" tinha morrido e que, apesar das negações dos seus seguidores, o corpo dela estava apodrecendo numa cela de Jerusalém. 

Durante nove anos, processos relativos à disposição da propriedade dela perturbaram o tribunal de Canandaigua e mantiveram viva a lembrança dela.13

Excêntricos como Bullard, Ann Lee e Jemima Wilkinson eram apenas as personalidades mais conspícuas da religião organizada. Também encontramos curadores pela fé e evangelistas em digressão, que excitavam as suas audiências até paroxismos de frenesi religioso. 




Evangelistas tinham enxameado a zona, pregando em grandes aglomerados a céu aberto, onde homens da fronteira, silenciosos e solitários, se reuniam para cantar e gritar. 

Revivalistas conheciam intimamente o seu inferno -- geografia, clima e estatísticas demográficas -- e retratavam o destino do pecador de forma tão horrenda que as multidões avançavam tremendo em direção aos altares feitos de caixotes para nascerem de novo. 

Centenas caíam ao chão sem sentidos, as senhoras de Kentucky vestidas da forma mais elegante jazendo na lama lado a lado com caçadores esfarrapados. 

Alguns eram apanhados pelos "espasmos", a sua cabeça e membros abanando para trás e para a frente e os seus corpos grotescamente distorcidos. Os que apanhavam os "latidos" rastejavam, rosnando e mordendo como se fossem cães selvagens lutando sobre os montes de lixo por detrás das tendas.

Um pregador escreveu para outro: 

"Milhares de línguas com o som de aleluia pareciam correr pelo espaço infinito; enquanto centenas de pessoas jaziam prostradas no chão, clamando por misericórdia. Oh! meu querido irmão, se tu tivesses estado lá para ver os membros em convulsão, os corpos aparentemente sem vida, terias sido constrangido a clamar tal como eu me senti obrigado a fazer: os deuses estão entre o povo!"14

As conversões em reavivamentos eram notoriamente de vida curta. O grande evangelista Charles G. Finney observou com desânimo que onde a excitação tinha sido mais selvagem, resultara "numa reação tão extensiva e profunda que deixava em muitas mentes a impressão de que a religião era um mero embuste." 

James Boyle escreveu a Finney em 1834: 

"Visitei e revisitei muitos destes campos, e gemi no espírito ao ver o triste, frígido, carnal e contencioso estado no qual as igrejas tinham caído ... três meses depois de as termos deixado."15

Devido aos seus próprios excessos, os reavivamentos enfraqueciam uma antipatia normal em relação à excentricidade religiosa. 

E estes anos pentecostais, que coincidiram com a adolescência e princípio de vida adulta de Joseph Smith, eram os mais férteis na história da América para a germinação de profetas. 

Na mesma década em que Joseph anunciou a sua missão, William Miller proclamou que Jesus visitaria a terra em março de 1843 e introduziria o milênio. Milhares congregaram-se nas suas fileiras, leiloaram as suas propriedades e compraram mantos para a ascensão. 

John Humphrey Noyes converteu-se à teoria de que o milênio já tinha começado, e fez planos para uma comunidade baseada em comunismo bíblico, amor livre e propagação científica. 

Matthias caminhava na cidade de Nova Iorque, brandindo uma espada e uma régua de dois metros, clamando que tinha vindo para redimir o mundo. E no sul de Ohio, Dylks, o "Deus de Leatherwood", proclamou a sua divindade a uma congregação aduladora com gritos e resfolegos que fizeram estremecer o telhado do seu tabernáculo.
Jemima Wilkinson foi esquecida com a divisão da sua propriedade; a comunidade Oneida de Noyes degenerou de uma experiência social e religiosa numa empresa comercial; e Dylks foi afastado de Leatherwood atado a um comboio. 

William Miller, embora tenha originado os Adventistas, nunca recuperou-se depois de 1845, quando Jesus não apareceu, mesmo depois de dois novos cálculos. 


Notas

1 Esta carta foi datada de 10 de abril de 1799. Veja Topsfield Historical Society Collections [Coleções da Sociedade Histórica de Topsfield], Vol. VIII, pp. 92-94.
2 Nathan Perkins: Narrative of a Tour through the State of Vermont [Narrativa de uma Viagem pelo Estado de Vermont], 1789 (Tuttle, 1930), p. 18.
3 Windsor: Impresso às expensas do autor, 1810.
4 Lucy Smith: Biographical Sketches of Joseph Smith and His Progenitors for Many Generations [Esboços Biográficos de Joseph Smith e dos Seus Progenitores por Muitas Gerações] (Liverpool, Inglaterra, 1853), pp. 21, 52.
5 Biographical Sketches, p. 37.
6 Veja John M. Mecklin: The Story of American Dissent [A História da Dissensão Americana] (Nova Iorque, 1934), pp. 37, 123.
7 Pode ter sido este o caso, embora historiadores desse tempo relatassem que o mercado nessa altura estava saturado. Veja Samuel Williams: Natural and Civil History of VermontHistória Natural e Civil de Vermont] (Burlington, 1809), Vol. I, pp. 85-86; e George V. Nash: "American Ginseng", U. S. Dept. of Agriculture Bulletin [Boletim do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos], No. 16, 1898. [
8 Veja o artigo assinado por "Vermonter" na Historical Magazine [Revista Histórica], novembro de 1870, pp. 315-316. Ali é dito que Daniel Woodward declarou que Smith tinha sido "implicado com um tal Jack Downing na falsificação de dinheiro, mas inverteu a evidência do Estado e escapou à punição." Examinei os registos destes julgamentos no tribunal de Woodstock, Vermont. O julgamento de George Downer, o único nome que corresponde a Downing, não menciona Joseph Smith e os outros julgamentos nos quais Smith foi testemunha tornam claro que ele foi uma vítima, não um cúmplice.
9 J. A. Gallup: Epidemic Diseases in the State of Vermont [Doenças Epidêmicas no Estado de Vermont] (Boston, 1815), pp. 72-75.
10 Veja especialmente I. Woodbridge Riley: The Founder of Mormonism [O Fundador do Mormonismo] (Nova Iorque: 1902), p. 42.
11 Para uma imagem detalhada sobre a economia e vida social do oeste de Nova Iorque neste período, veja O. Turner: History of the Pioneer Settlement of Phelps and Gorham's PurchaseHistória da Colônia de Pioneiros de Phelps e da Compra de Gorham] (Nova Iorque, 1851); William Darby: A Tour from the City of New York to Detroit [Uma Viagem da Cidade de Nova Iorque até Detroit] (Nova Iorque, 1819); Robert Munro: A View of the Present Situation of the Western Parts of the State of New York [Uma Perspectiva Sobre a Situação Atual das partes ocidentais do Estado de Nova Iorque] (Frederick-Town, 1804); John Fowler: Journal of a Tour in the State of New York in the Year 1830 [Diário de uma Viagem no Estado de Nova Iorque no Ano 1830] (Londres, 1831); History of Ontario County, New York [História do Condado de Ontario, Nova Iorque] (Filadélfia, 1876). [
12 History of Ontario County [História do Condado de Ontario], p. 42.
13 Para relatos sobre Jemima Wilkinson, os Shakers no oeste de Nova Iorque e Isaac Bullard, veja David Hudson: History of Jemima Wilkinson [História de Jemima Wilkinson] (Geneva, Nova Iorque, 1821); Richard McNemar: The Kentucky Revival [O Reavivamento de Kentucky] (Nova Iorque, 1846); Z. Thompson: History of Vermont [História de Vermont], Parte II, pp. 203-204; e Wayne Sentinel [Sentinela de Wayne] (Palmyra, Nova Iorque), 26 de maio de 1826.
14 Veja Catherine Cleveland: The Great Revival in the West, 1797-1805 [O Grande Reavivamento no Oeste, 1797-1805] (Chicago, 1916), p. 93; e Richard McNemar: The Kentucky Revival [O Reavivamento de Kentucky], p. 26.
15 Veja Charles G. Finney: Memoirs [Memórias] (Nova Iorque, 1876), p. 78; e Literary and Theological Review [Crítica Literária e Teológica], março de 1838, p. 66.

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