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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

DOUTRINA SUD 9 - o dízimo - parte 3 - Velho e Novo Testamento

Introdução

A idéia de que todo cristão é obrigado a dizimar (dar 10% da sua renda para a igreja) é largamente difundida nas igrejas evangélicas e Mórmon.  Já bem cedo na vida espiritual, praticamente todo religioso é ensinado que tem que dizimar. 

Muitos têm clamado que aquele que não dá o dízimo para o trabalho do Senhor está roubando Deus e está sob maldição, de acordo com Malaquias 3:8-10.

Aqui, examinaremos o que a própria Bíblia ensina sobre o assunto do dízimo, com o propósito de entender [somente pela Bíblia]  qual é a real relevância do dízimo para aqueles que vivem sob o Novo Pacto. 

Isso será feito examinando o que a Bíblia tem a dizer sobre o dízimo:
1) antes da Lei ser dada; 
2) sob a Lei Mosaica; 
3) nas Escrituras do Novo Testamento.


1 - O dízimo antes da Lei Mosaica

Há duas passagens Bíblicas que falam de um dízimo sendo dado antes que a Lei fosse instituída no Sinai. As passagens envolvem Abraão e Jacó, dois dos patriarcas de Israel.

Gênesis 14:17-20:
"E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. 18 E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. 19 E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; 20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo." [Todas as citações são da Almeida Corrigida Fiel]

Nesta passagem, Abraão deu um dízimo a Melquisedeque, presumivelmente como uma expressão de gratidão a Deus por capacitar-lhe e conceder-lhe resgatar seu sobrinho Ló, que tinha sido levado cativo. 

Aqueles que crêem que o dízimo é mandatório do Novo Testamento argumentam que, uma vez que o dízimo foi praticado antes que a Lei Mosaica fosse dada, ele forçosamente também tem que ser praticado depois da Lei Mosaica (que ficou obsoleta pelo estabelecimento do Novo Pacto) (He 8:13). 

No entanto, antes que cheguemos a qualquer decisão dura e apressada,  olhemos de mais perto o texto e façamos algumas observações.

- Não há nenhuma evidência neste texto de que dizimar foi ordenado por Deus. De fato, tudo no texto nos leva a crer que dar o dízimo foi uma decisão e livre escolha de Abraão. Como tal, foi completamente voluntária. Em breve, veremos que o dízimo na Lei, de modo algum era voluntário, mas sim obrigatório a todo o povo de Deus.

- Ademais, este é o único dízimo que as Escrituras mencionam que Abraão deu em toda a sua vida. Não temos nenhuma evidência de que dizimar era sua prática geral.

- Ainda, este dízimo proveio do despojo da vitória que Abraão adquiriu por poderio militar. Como notaremos depois, o dízimo exigido sob a Lei Mosaica era sobre o lucro da colheita, dos frutos e dos rebanhos, e para ser dado em uma base anual -- não o despojo de uma vitória militar!


Gênesis 28:20-22

" E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; 21 E eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; 22 E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo."
 
Jacó, nesta passagem, está fazendo um voto em resposta a uma visitação que recebeu de Deus, em um sonho. Neste sonho, Jacó viu uma escada alcançando o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. No sonho, Deus estava de pé, acima da escada, e disse a Jacó 

"... Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; 14 E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; 15 E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado."  (v. 13-15). 

Em resposta, Jacó fez o voto que, se Deus guardasse Sua promessa, ele, por sua vez, daria a Deus um dízimo. Novamente, em semelhança ao exemplo de Abraão, parece que este dízimo foi voluntário da parte de Jacó. Se ele de fato começou a dizimar depois que Deus cumpriu a promessa que lhe fez, Jacó ainda adiou o dizimar por 20 anos, até depois da volta a Canaã.

Estes dois são os únicos exemplos de dizimar que podem ser encontrados no Velho Testamento antes da Lei ser dada. Ambos são exemplos de algo voluntário, e nenhum desses dois dizimar foi pedido por Deus. 

Em nenhum dos personagens vemos o exemplo de dizimar como uma prática habitual das suas vida. De fato, na vida de Abraão, parece que o dízimo foi dado uma única vez em sua vida, e foi um dízimo dos despojos de uma vitória militar, dado a um sacerdote de Deus. 

Se a obrigação de ser dizimista se apóia nestas duas passagens de Gênesis, parece-me que estamos nos apoiando em um fundamento muitíssimo inseguro!


2 - O dízimo sob a Lei Mosaica
Que ensina a Bíblia sobre o dízimo sob a Lei Mosaica? 

Examinaremos agora todas as passagens significantes que descrevam o dízimo sob a Lei, nas Escrituras.

Levítico 27:30-33
 

"Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR. 31 Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. 32 No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao SENHOR. 33 Não se investigará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se de alguma maneira o trocar, tanto um como o outro será santo; não serão resgatados."

Note que nesta passagem, o dízimo é descrito como sendo parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das árvores,
do gado, e do rebanho. O dízimo não era o dar dinheiro. Em local algum das Escrituras você encontrará que dizimar era o dar dinheiro para Deus. 

Ademais, o dízimo era provavelmente dado em uma base anual. Cada ano, depois que a terra tinha sido colhida, as pessoas traziam para os sacerdotes as décimas partes de suas colheitas e do aumento na manada e no rebanho. Daí, uma contribuição  ou mensal de dez por cento da renda monetária difere muito da prática do dízimo que se encontra na Bíblia.

Números 18:21-24 

O Dízimo para os Levitas: 
"E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação. 22 E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. 23 Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniqüidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão, 24 Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao SENHOR em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão."

Note, neste texto, que o dízimo foi planejado para ser o sustento dos levitas. Uma vez que estes não tinham nenhuma herança [terra para atividade agro-pastoril] na Terra Prometida, tal como a tinham as outras tribos, Deus fez provisão para o sustento deles através do dízimo das outras famílias de Israel. 

De fato, em Números 18:31 é dito:

"E o comereis em todo o lugar, vós e as vossas famílias, porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação.

O dízimo foi o pagamento- recompensa que Deus supriu para os levitas, pelos seus serviços sacerdotais. Isto é similar ao sustento que os funcionários do governo recebem hoje no nosso país, através dos impostos e taxas pagos pelo trabalhador comum.

Deuteronômio 14:22-27 

O Dízimo para o Festival
"Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. 23 E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias. 24 E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; 25 Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; 26 E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; 27 Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo."

Este texto fala de um dízimo sendo usado para prover as festas e festivais religiosos de Israel. 

Números 18:21 nos diz que Deus deu todo o dízimo em Israel para ser a herança para os Levitas. Se todo o dízimo foi dado aos Levitas, então como é que este dízimo (em Dt 14) é dito para ser usado para as festas e festivais religiosos de Israel? A resposta tem que ser que este é um segundo dízimo. 

O primeiro era usado para o sustento dos Levitas e o segundo para prover para os festivais religiosos, tanto assim que chegou a ser referido como "O  Dízimo para o Festival". 

O povo de Israel devia usar este dízimo para comer na presença do Senhor, em Jerusalém. Se fosse demasiadamente incômodo para as pessoas de longe trazerem seus dízimos todo o caminho até Jerusalém, seria permitido que elas o vendessem  e trouxessem o dinheiro até Jerusalém, onde poderiam comprar aquilo de necessidade para os festivais. 

Deus expressamente encoraja as pessoas a gastarem o dinheiro deles em "tudo o que deseja a tua alma," incluindo bebida forte! ! 

O propósito era que o povo de Israel  pudesse  aprender a temer o Senhor e a regozijar-se ante Ele. Note que ter um sentimento de temor do Senhor, e regozijar ante Ele, não são mutuamente exclusivos, mas, na realidade, são complementares, deveriam  acompanhar um ao outro! 

Este "Dízimo Para o Festival"  tornou possível ao povo de Israel ter toda a comida e bebida necessárias para que  pudesse usufruir gozosamente das festas religiosas de Israel, e adorar ante o Senhor.

Deuteronômio 14:28-29

O Dízimo para os Pobres: 
"Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; 29 Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem."

Aqui, somos ensinados a respeito de um terceiro dízimo que é coletado a cada terceiro ano. Os comentaristas Bíblicos estão divididos quanto a se este é realmente um terceiro dízimo, em separado, ou apenas é o segundo dízimo usado de um modo diferente, no terceiro ano. 

O historiador judeu Josephus apóia o ponto de vista de que este foi um terceiro dízimo, em separado. Outros antigos comentaristas judeus têm escrito que este é apenas o segundo dízimo que, a cada três anos, era coletado e usado com outro fim. 

É muito difícil saber com absoluta certeza quem está certo. De qualquer forma, o povo judeu tinha sido ordenado a dar pelo menos [10 + 10  =] 20 por cento das suas colheitas e rebanhos, e talvez tanto quanto  [10 + 10 + 10/3] = 23.3 por cento! 

Este dízimo particular bem poderia ser chamado "O Dízimo para os Pobres". Não devia ser ajuntado em Jerusalém, mas nas aldeias. As pessoas de cada aldeia deviam trazer uma décima parte de suas colheitas e rebanhos e ajuntar tudo, para prover para os pobres da aldeia, incluindo os estrangeiros, os órfãos, e as viúvas.

Em muitos aspectos, parece que o dízimo exigido sob a Lei é hoje similar à taxação que o  governo impõe sobre nós. Israel era governado por uma teocracia. Sob ela, o povo era responsável por prover para os trabalhadores do governo (os sacerdotes e os levitas em geral), para os dias santificados (festas de alegria ao Senhor), e para os pobres (estrangeiros, viúvas e órfãos).

 
Neemias 12:44:
 

"Também no mesmo dia se nomearam homens sobre as câmaras, dos tesouros, das ofertas alçadas, das primícias, dos dízimos, para ajuntarem nelas, dos campos das cidades, as partes da lei para os sacerdotes e para os levitas; porque Judá estava alegre por causa dos sacerdotes e dos levitas que assistiam ali."

Note que o texto diz que os dízimos eram exigências "da Lei".

Estes dízimos não eram voluntários como o foram nas vidas de Abraão e Jacó. Similarmente, lemos em Hebreus 7:5 

"E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão."

Indiscutivelmente, o dízimo nunca foi voluntário sob a Lei de Moisés.

Note que nos dias de Neemias, homens eram indicados para ajuntarem as ofertas e os dízimos em câmaras designadas para aquele propósito particular. Estas câmaras eram para os bens armazenados, e depois se tornaram conhecidas como "casas do tesouro". Isto se tornará importante quando olharmos para o  próximo texto, em Malaquias 3.
 
Malaquias 3:8-12:
 

"Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. 9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. 10 Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. 11 E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos. 12 E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos."

Examinemos esta passagem versículo por
versículo, para que dela possamos extrair algumas importantes verdades.

3:8 Este versículo nos diz que quando um homem retém seus dízimos ele está roubando, na realidade, a Deus. Isto porque ele está retendo algo que não lhe pertence, antes é propriedade de Deus. 

Sob o Velho Pacto, o dízimo era mandatório, portanto retê-lo era se tornar um ladrão. 

Note também que Deus diz que o povo o estava roubando em dízimoS. Ele não disse no "dízimo", mas sim nos "dízimoS" (plural). Estes "dízimos"  referem-se aos diferentes dízimos requeridos do povo de Deus (o Dízimo para o Levita, o Dízimo para as Festas ao Senhor, e o Dízimo para os Pobres). 

Adicionalmente, Deus não está condenando o reter apenas dos dízimos, mas também das ofertas. Estas, sem dúvida, referem-se às ofertas especificadas em Levíticos 1-5, tais como a oferta queimada [holocausto], a oferta dos manjares, a oferta de paz, a oferta pelos pecados e a oferta pelas culpas. 

Todas estas ofertas eram constituídas, principalmente, de sacrifícios de animais. O suprimento de comida e mantimento para os Levitas era provido, em grande parte, através destes sacrifícios de animais, dos quais os Levitas eram permitidos participar, comendo-os, em certos casos. 

Uma importante pergunta emerge a este ponto. Por que é que o sacrifício de animais não é coisa para o Novo Pacto, mas o dízimo o é? 

Se os cristãos tem a obrigação de pagar dízimos hoje, então, certamente, ainda estariam obrigados a oferecer sacrifícios de animais. Deus amarrou um ao outro (os dízimos e os sacrifícios), e disse que Seu povo O estava roubando por reter a ambos. 

Nãose  pode decidir "pegar e escolher" qual dos dois oferecer a Deus. Das duas uma: 

[a] a obrigação é de oferecer ambos, tanto dízimos como ofertas de animais (sacrifícios), ou 

[b] ambos (dízimo e sacrifício) têm sido abolidos pela ab-rogação da Lei Mosaica.

3:9
Como o povo de Israel estava retendo os dízimos e ofertas, conseqüentemente estava amaldiçoado com uma maldição. Note que o verso não diz 

"Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda a humanidade.

Ao contrário, diz

"Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação.

Se dizimar fosse um mandamento moral e eterno para todos os povos de todos os tempos, então todos estes estariam sob maldição. Mas o texto somente diz que é toda nação de Israel que estava sob a maldição. Agora, o interessante sobre esta "maldição" é que, em Deuteronômio 28, vemos que se Israel, sob a Lei Judaica, desobedecesse os mandamentos de Deus, então a nação seria amaldiçoada. 

Note os seguintes textos:  

Deuteronômio 28:18 

"Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas. 23 E os teus céus, que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. 24 O SENHOR dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças. 38 Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá. 39 Plantarás vinhas, e cultivarás; porém não beberás vinho, nem colherás as uvas; porque o bicho as colherá. 40 Em todos os termos terás oliveiras; porém não te ungirás com azeite; porque a azeitona cairá da tua oliveira. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do SENHOR teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenado" (Dt 28:18, 23-24, 38-40, 45). 

Nestes versos, Deus adverte que se o Seu povo desobedecesse Seus mandamentos e estatutos, então as ceifas dele falhariam, as chuvas não viriam, as colheitas seriam pequenas, a locusta [tipo de grilos ou gafanhotos] consumiria a comida, e o fruto das árvores falharia.

3:10
Nesta passagem, Deus fala da "casa do tesouro". Com base em Neemias 12:44, sabemos que isto se refere às câmaras no Templo, postas à parte e designadas para guardar os dízimos dados pelo povo para o sustento dos sacerdotes e a todos os demais levitas. 

Não existe sequer uma mínima evidência de que estas "casas do tesouro"  estão associadas aos prédios das igrejas.  

Na realidade, a razão pela qual Israel devia trazer todos os dízimos para dentro da casa do tesouro era para que houvesse bastante alimento na casa de Deus. Deus estava interessado em que os levitas tivessem comida. Este era o propósito daqueles dízimos que eram trazidos para o Templo de Deus. 

Também fica claro que se o povo de Deus fosse fiel em trazer seus dízimos para a casa do tesouro, Deus abriria as janelas do céu e derramaria para eles muitas bênçãos. Isto sem dúvidas refere-se à promessa de Deus de trazer abundantes chuvas para produzir a bênção de uma transbordante ceifa.

3:11
Neste verso, Deus promete que se Israel trouxer os dízimoS e as ofertaS, Ele repreenderá o devorador para que não destrua o fruto da terra. Sem dúvidas, o "devorador" é uma referência às locustas que Deus adverte que virão sobre os campos de Israel se o povo falhar em trazer o dízimo (Dt 28:38; vide acima). 

3:12
Neste verso, Deus promete que, se Israel for obediente no dar os seus dízimoS e ofertaS, todas as nações a chamarão abençoada. É interessante que Deus não apenas advertiu Israel de que seria amaldiçoada se desobedecesse a Lei Mosaica, mas também prometeu que seria abençoada se a obedecesse. Note estes textos: 

"1 E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra. 2 E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do SENHOR teu Deus; (Dt 28:1-2). 4 Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. 8 O SENHOR mandará que a bênção [esteja] contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o SENHOR teu Deus. 11 E o SENHOR te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o SENHOR jurou a teus pais te dar. 12 O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado." (Dt 28:1-2, 4, 8, 11-12). 

Aqui, Deus prometeu abençoar Israel materialmente se fosse obediente. A promessa inclui abundantes colheitas, copiosas chuvas, e grandes aumentos nas manadas e nos rebanhos.

Portanto, as bênçãos e maldições escritas em Malaquias 3:8-12 referem-se às bênçãos materiais que Deus prometeu a Israel, se eles obedecessem seus mandamentos e estatutos. Pagar os dízimos e ofertas foi um destes mandamentos.

Portanto, podemos concluir sobre o dízimo, sob a Lei Mosaica que ele não estava, de forma alguma, relacionado a dar dinheiro regularmente, numa base mensal. Ao contrário, estava relacionado com a adoração a Deus conforme ordenada no tempo do Velho Pacto. 

O mandamento para dizimar, tal como os mandamentos para não comer camarão nem ostras, tornou-se obsoleto e foi colocado de lado, pela inauguração do Novo Pacto. O dízimo foi o sistema de impostos e taxas ordenado por Deus sob o sistema teocrático do Velho Testamento.

Se alguém deseja dizimar literalmente de acordo com as Escrituras, teria que fazer o seguinte:

1) Deixar seu trabalho e comprar uma terrinha, de modo que possa criar seu gado e plantar e colher [grãos, verduras e frutas].
2) Encontrar algum descendente de Leví, para sustentá-lo, e este a um descendente do levita Arão - que realmente seja um sacerdote no Templo, em Jerusalém.
3) Usar suas colheitas para observar as festas religiosos do Velho Testamento, tais como Páscoa, Pães Asmos, Pentecostes, Tabernáculos;
4) Começar por dar pelo menos 20 por cento de todas as suas colheitas e rebanhos a Deus; e
5) Esperar que, com toda certeza, Deus amaldiçoe sua nação com grande insuficiência material, se ela for infiel, ou a abençoe com grande abundância material, se for fiel.

Certamente isto é completamente absurdo! Os cristãos aceitam que Cristo aboliu o sacerdócio levítico, os sacrifícios de animais e as festas religiosas. Se isto é verdade, por que uma religião mantém o dízimo, que foi parte e parcela de todas essas ordenanças do Velho Testamento?

3 - O dízimo no Novo Testamento






A coisa mais interessante sobre o conceito de pagar dízimos no Novo Testamento, é que este está quase que virtualmente ausente . No NT há somente quatro diferentes passagens  que fazem alguma menção ao dízimo. Examinemo-las.

Mateus 23:23:
 

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas."

Esta passagem em Mateus é também repetida de uma forma similar em Lc 11:42. 

Em ambos os casos é importante notar que o dízimo estava relacionado às ervas que serviam de condimentos e eram cultivadas, e não ao dinheiro. Adicionalmente, Jesus falou aos fariseus, que eram muito religiosos e guardadores da Lei, e o fez enquanto a Lei ainda estava em vigor

Dizer que, uma vez que Jesus falou a estes fariseus que deviam dizimar, e que portanto todo cristão também deve fazê-lo, ignora o fato que aqueles fariseus viviam sob pacto e leis diferentes daqueles do Novo Testamento. 

Cristo, através da sua morte, inaugurou o Novo Pacto, assim efetivando uma mudança na Lei (Lc 22:20; He 7:12):

Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós. (Lucas 22:20) Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. (Hebreus 7:12) 

Finalmente, note que o dízimo aqui mencionado não foi voluntário em nenhum sentido da palavra. Jesus lhes diz que "deveis" [tendes o dever de] dizimar. Portanto, o dízimo era mandamento, ordem para todos os judeus e, assim, era obrigatório.

Lucas 18:12:
 

"Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo."

Jesus, nesta passagem, está ensinando a parábola acerca do fariseu e do cobrador de impostos. Cristo põe estas palavras na boca do fariseu que se via mesmo como justo: "dou os dízimos de tudo quanto possuo." 

Cristo não está enfatizando o dever do cristão em pagar o dízimo mosaico aos levitas, mas que o homem  vê a si mesmo como justo, confia em suas obras para ser aceitável ante Deus. Todavia, a despeito do melhor que faça, não é justificado ao olhos de Deus. 

Novamente: Cristo está falando acerca de um fariseu que dá o dízimo, na época em que vivia sob a Lei Mosaica, e não de um cristãodizimando sob o Novo Pacto.

Hebreus 7:1-10:
 

"1  Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; 2 A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; 3 Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. 4 Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos. 5 E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão. 6 Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas. 7 Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. 8 E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. 9 E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos. 10 Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro."

Nesta longa passagem, o objetivo é mostrar a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico e, portanto, exortar seus leitores para não retornarem às suas formas judaicas de adorar, repletas com seus sacerdócio, Templo e sacrifícios. 

É mencionado Abraão pagando dízimos a Melquisedeque, mostrando que, uma vez que Levi estava nos lombos do patriarca Abraão, na realidade Levi pagou dízimos a Melquisedeque e foi abençoado por ele. 

Uma vez que é óbvio que o menor é sempre abençoado pelo maior, Melquisedeque e seu sacerdócio são maiores que os levitas e o sacerdócio deles. 

Aqui, o autor de Hebreus não está mais do que reafirmando que Abraão pagou dízimos a Melquisedeque, já temos analisado acima. Esta passagem não está exortando os cristãos a darem o dízimo como Abraão o fez. Ao contrário, está instruindo que os seguidores percebam a excelência de Cristo, o qual ministra como um sacerdote muitíssimo superior aos levitas. 

Portanto, esta passagem não pode ser usada para forçar o dízimo sobre os cristãos. Simplesmente, ela não foi escrita para tratar deste assunto. Ela não está relacionada à doação de dez por centodas rendas para a igreja, mas, ao contrário, fala sobre a superioridade de Cristo.
 
 
Portanto, não há nem sequer uma só palavra em todo o Novo Testamento que ordene ou mesmo sugira que se espera que os cristãos paguem seu dízimo. Mas, enquanto o Novo Testamento fica em total silêncio sobre o dever dos cristãos dizimarem, não o fica sobre o assunto de dadivar. Sobre isto o NT fala, e muito alto.

O Novo Testamento nunca estipula um certo valor percentual como um padrão obrigatório e exigido para nossas contribuições. Ao contrário, as Escrituras declaram: 

"Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria." (2Cor 9:7).

O dízimo do Velho Testamento foi exigência legal. Os judeus estavam sob obrigação de dá-lo. O ensino do Novo Testamento sobre o contribuir focaliza o seu caráter voluntário 

"Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente." (2Co 8:3). 

Esta contribuição voluntária é exatamente o que Abraão e Jacó estavam praticando antes da instituição da Lei, e é o que todos os cristãos devem estar praticando hoje. Portanto, você tem a liberdade de dadivar tanto quanto decidir. 

Se quiser dar dez por cento como Abraão e Jacó o fizeram, você está livres para tal. No entanto, se decidir dar 3 ou 5 ou 20 ou 50 por cento, então pode muito bem fazê-lo. 

O padrão de suas contribuições não é uma percentagem fixa, mas o exemplo de Jesus:

"Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis." (2Co 8:9). 

Ao contrário do que alguns religiosos pregam, aqueles que são pobres não devem se sentir culpados se não forem capazes de dar dez por cento de seus rendimentos. É verdade que Deus honrará o homem que dá sacrificialmente, mas se uma pessoa decide que não pode dar dez por cento dos seus rendimentos e ainda assim satisfazer as necessidades mais básicas suas e de sua família, é uma liberdade, sem julgamento. Afinal, em lugar nenhum Deus falou aos cristãos que é dever deles dar qualquer percentagem fixa.

Que o efeito deste estudo seja libertar-nos dos grilhões das tradições dos homens que não possam ser substanciadas pela Palavra de Deus (Mar 7:1-13) 

" 7 Em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. 8 Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; ... 9 E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. ... 13 Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. ...".

Ser generoso e pronto a compartilhar, este é o fundamento dos ensinamentos cristãos e a forma de sermos melhores:

1 Tim 6:18-19

"18 Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; 19 Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar  a vida eterna."

Brian Anderson
Milpitas Bible Fellowship, 1715 E. Calaveras Blvd, Milpitas, Ca 95035, brian@solidrock.net
Traduzido por Hélio de Menezes Silva, visite http://solascriptura-tt.org

5 comentários:

  1. Olha isso eu vou confessar que já pensei nisso.
    Por exemplo:
    No novo testamento não se fala para guardar o sábado.
    Mas também não fala para guardar o dízimo.
    Então o autor disse que o dízimo também foi abolido por Jesus?

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  2. Exatamente, jülio. O texto dele é muito grande, mas na parte seguinte ele explica que são ofertas e não o dízimo que passa a valer na época de Jesus.

    E ofertas significa dar o que você pode, o que você quer, de coração, e para realmente ajudar os outros. Vale a pena visitar o texto original de Hélio de Menezes, o link está no final do texto aqui postado.

    Abs

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  3. Aqui estou de novo.Como vc persebeu,estou lendo por assuntos,entao tenho lido na sequencia.
    Engraçado,mas nesse topico "DOUTRINA SUD 08 - o dízimo e os templos" vc teve 87 comentarios,e neste apenas 2.Acredito que muitos daqueles que comentaram no anterior leram esse tambem.Então,porque não comentaram aqui depois dessa bela explicação? Já li muitas coisas sobre o dizimo e as ofertas,mas essa explicação foi sem duvidas excepcional!É uma pena que as pessoas sempre irão dar uma resposta que lhe convém.
    Sempre me pergunto porque as pessoas insistem em observar certas leis do VT e outras simplesmente elas ignoram?
    Sem mais comentários, parabéns por esse post,me esclareceu muita coisa. Vou estudá-lo e ficar "craque"nele,pois pelo que vi,vou ter argumentos biblicos nos meus assuntos futuros.

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  4. Caro Investigando

    É exatamente isso. Quando nõa há argumentos, nõa há o que ser debatido.

    Aliás, se você notou, nenhum comentário traz um argumento forte e que seja digno de um debate real e intelectual.

    Enfim, alguns posts são tão contrários à doutrina SUD e tão claros na Bíblia, que não á como eles arguírem contra.

    Abs

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  5. Parabéns Investigadora!

    Eu li tudo e pude entender que o dízimo não era dinheiro e sim frutas no Velho Testamento.
    E que também somente os judeus seriam "amaldiçoados" mas, nós não.
    Ótimo post!

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