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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alteração versus perfeição

 Joseph Smith: 
"Declarei aos irmãos que o livro de Mórmon era o mais correto de todos os livros da terra, e a pedra angular da nossa religião." - Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, página 178. 


Rex E. Lee: 
"A autencidade do mormonismo fica de pé ou cai junto com o livro do qual a igreja deriva de seu nome".

Com base nesatas duas declarações, entre muitas outras, o Livro de Mórmon é um livro perfeito e a base da igreja SUD.

De acordo com o dicionário:
Significado de perfeito: adj. Que reúne todas as qualidades; que não tem defeitos; ideal, impecável; excelente. Completo, absoluto, total.

Levando em consideração esse conjunto de informações, um livro perfeito, sem defeitos, não poderia ser alterado. 

Porém, o Livro de Mórmon que Joseph Smith publicou em 1830 não é o mesmo livro que é publicado mais de 170 anos depois. O Livro de Mórmon sofreu muitas revisões desde que a edição de 1830 foi publicada. Adiante, mostrarei detalhes destas mudanças.

Mudanças na introdução

De maneira interessante, além das mudanças no texto atual do Livro de Mórmon, há mudanças que aconteceram no material introdutório. 

Autor ou tradutor?

A primeira edição publicada do Livro de Mórmon, na primeira página, diz assim:

"LIVRO DE MÓRMON:... POR JOSEPH SMITH JÚNIOR, AUTOR E PROPRIETÁRIO". 

É surpreendente pensar que estas poucas palavras, quando alteradas, de fato alteram a visão do leitor do Livro de Mórmon. A leitura atual foi mudada para "Traduzido por Joseph Smith Jr". 

Ao se ler o Livro de Mórmon, deve ser determinado se Joseph foi o autor ou o tradutor. Se ele foi o autor, então o livro é pura ficção, tendo lugar muito tempo antes da vida de Smith. Se ele o traduziu, então está aberta a porta para a idéia de que é uma obra de não-ficção, um relato preciso da história.   

Abaixo, uma figura escaneada da edição de 1830:

Livro de Mórmon, primeira versão: Por Joseph Smith Junior. Autor e Proprietário.


Carta perdida 

Nas edições mais atuais do Livro de Mórmon a igreja SUD omitiu completamente uma carta que originalmente estava na página dois (1830 ed.) entre a página do título e o prefácio. A carta mostra que Smith, a partir de 1829, afirmou ser o autor do Livro de Mórmon.

Prefácio perdido  
Além da carta perdida, o prefácio original continha uma explicação, nas próprias palavras de Smith, dos supostos falsos relatórios que haviam estado em circulação sobre o envolvimento de Smith com o Livro de Mórmon. 

No prefácio ele assegura ao leitor que ele traduziu o Livro de Mórmon das "placas de Nefi", e que os supostos falsos relatórios se originaram com "pessoas mal intencionadas" em cujos corações Satanás estava atuando seus “planos diabólicos”. Ele assegura seus leitores que Deus havia lhe dito que sua sabedoria era superior ao diabo.     

É interessante notar que depois dessa longa resposta para explicar que ele traduziu o Livro de Mórmon das placas, ele assina o prefácio como "AUTOR". 

ALTERAÇÕES DE ORTOGRAFIA, SINTAXE E CONTEXTUAIS

Em 2009, foi lançada a edição The Book of Mormon: The Earliest Text. Centenas de correções, a partir dos escritos originais, foram encontradas pelo estudo Royal Skousen ("The Book of Mormon - Skousen, Royal; Smith, Joseph". Yale University Press). 

Há numerosas mudanças no texto do livro de Mórmon entre 1830 e a edição atual, quase 4000 (3913 Changes in The Book of Mormon. Jerald and Sandra Tanner). A maioria destas mudanças foram correções ortográficas e gramaticais. Porém mudanças de contexto também foram feitas.

Esta é uma lista sumária de algumas passagens no LM. Vamos examinar:

1) Mudanças sobre a Divindade

O Livro de Mórmon original (a edição de 1830) tinha algumas frases sobre a divindade de Jesus Cristo:  

Edição de 1830:
1 Néfi 11:18: "E disse-me ele: a virgem que vês é a mãe de Deus, segundo a carne".
1 Néfi 11:21: "Eis aqui o Cordeiro de Deus, sim, o Pai Eterno."
1 Néfi 11:32: "E, olhando, vi o Cordeiro de Deus ser carregado pelo povo, sim, o Deus Eterno ser julgado pelo mundo;"
1 Néfi 13:40: "que o Cordeiro de Deus é o Pai Eterno e salvador do mundo..."

Compare esses versículos com uma edição do LM moderna. Em todas as frases acima, o texto foi corrigido adicionando a frase "Filho de" nos lugares apropriados.

1 Néfi 11:18: "E disse-me ele: a virgem que vês é  a mãe DO FILHO de Deus, segundo a carne".
1 Néfi 11:21: "Eis aqui o Cordeiro de Deus, sim, o FILHO DO Pai Eterno."
1 Néfi 11:32: "E, olhando, vi o Cordeiro de Deus ser carregado pelo povo, sim, o FILHO DO Deus Eterno ser julgado pelo mundo;"
1 Néfi 13:40: "que o Cordeiro de Deus é o FILHO DO Pai Eterno e salvador do mundo..."
 

2) Mudando Benjamim para Mosiah

O texto original de Mosiah 21:28 diz:
"E Limhi novamente se encheu de alegria ao saber, pela boca de Amon, que o rei Benjamim tinha um dom de Deus, mediante o qual podia interpretar tais gravações; sim, e Amon também se regozijou".

Versão de 1830: em Mosiah 21:28, lemos Rei Benjamim.

O problema, é que o rei Benjamim já estava morto nesta 

Rei Benjamim pregando ao povo - 124aC.

época (Mosiah 6:5, em 121 a.C., segundo o livro do Mórmon, ou seja, 1 ano antes da citação de Mosiah 21:28). 

Esta referência foi mudada para 'Mosiah' em 1837 e nas edições posteriores. Porém, parece que este não foi o único lugar onde esta mudança foi feita. O texto original de Éter 4:1 reza:



"e por essa razão o rei Benjamim as guardou, a fim de que não viessem ao mundo senão depois que Cristo aparecesse a seu povo".

De novo, foi mudado para 'Mosiah' nas edições posteriores. O fato que há duas dessas mudanças nos faz pensar que Smith podia ter tido uma outra versão diferente para a narrativa.

3) Apresentando Cristo

O texto original de 1 Néfi 12:18 diz:

"sim, a palavra da justiça do Deus Eterno e de Jesus Cristo, que é o Cordeiro de Deus..."


Versão de 1930: Em 1 Néfi 12:18, lemos Jesus Cristo



O problema é que o nome 'Jesus Cristo' não foi revelado aos nefitas antes de 2 Néfi 10:3. 

[Nota do Tradutor: na edição do LM de 1975 diz que a data em que ocorreu a passagem de 1 Néfi 12:18 foi entre 600 e 592 a.C. E diz que a passagem de 2 Néfi 10:3 aconteceu entre 559 e 545 a.C.!]. 

Em 2 Néfi 10:3 diz:

"portanto, como já vos disse, é necessário que Cristo (pois que na noite passada o anjo me informou que este seria o seu nome) venha entre os judeus."
 Versão de 1930: Em 2 Néfi 10:3, lemos Cristo

Para corrigir esta contradição, o texto de 1 Néfi 12:18 foi mudado para "Messias" em vez de "Jesus Cristo".

Este episódio revela um equívoco fundamental da palavra "Cristo" por Joseph Smith. "Cristo" e "Messias" são realmente sinônimos (veja Jo. 1.41), o anterior derivando do grego e o último do hebraico. 

"Messias" é usado corretamente no LM como um título, mas "Cristo" se usa incorretamente como nome próprio, um erro muito comum entre aqueles que não estão totalmente inteirados com a etimologia da palavra. 

A declaração de 2 Néfi 10:3 tem pouco sentido.

4) Batismo no Antigo Testamento

O texto original de 1 Néfi 20:1 diz:

"Escutai e ouvi isto, ó casa de Jacó, que és chamada pelo nome de Israel, que saíste das águas de Judá; que juras em nome do Senhor e que mencionas o nome do Deus de Israel, mas que não juras nem em verdades nem em justiça".
 Versão de 1930: Em 1 Néfi 20:1, lemos "que saíste das águas de Judá...", sem nenhuma alusão ao batismo

A frase "ou das águas do batismo" foram inseridas na edição de 1840:

"Escutai e ouvi isto, ó casa de Jacó, que és chamada pelo nome de Israel, que saíste das águas de Judá OU DAS ÁGUAS DO BATISMO; que juras em nome do Senhor e que mencionas o nome do Deus de Israel, mas que não juras nem em verdades nem em justiça". 

5) Seraphim ou Seraphims?

O texto original de 2 Néfi 16:2 diz:

"Above it stood the seraphims: each one had six wings; with twain he covered his face, and with twain he covered his feet, and with twain he did fly".

Esta é uma citação da Bíblia inglesa King James (Rei Tiago), em Is. 6.2. Em um erro gramatical, a KJV tem um plural incorreto para "seraph". O plural correto (em inglês), claro, deveria ser "seraphim", como o texto na edição de 1975 diz. 

O que isto mostra é que o LM tem uma confiança muito mais profunda na Bíblia King James que os estudiosos mórmons gostariam de admitir.

6) Cumora e Moroni

Os críticos tem ensinado muito que há uma estranha ligação entre o monte Cumora e o anjo Moroni e as ilhas Comores na costa oriental de Moçambique, cuja capital é Moroni, que ja era uma cidade desde antes do Livro de Mormon. 

Os defensores do Livro de Mórmon dizem que isto é só uma coincidência e que "Comores" tem pouco a ver com "Cumora". 


O fato é que antes da ocupação francesa de 1860, as ilhas Comores eram conhecidas por seu nome árabe, Camora (às vezes escrita Comora). Agora note que o Livro de Mórmon de 1830 dizia "Camora" e não "Cumora". 

Veja o texto original de Mórmon 6:2:

"E eu, Mórmon, escrevi uma epístola ao rei dos lamanitas, informando-o de que desejava que ele nos permitisse reunir nosso povo na terra de Camora, nas proximidades de um monte chamado Camora, a fim de que nesse lugar lhes déssemos batalha".

Monte CAMORA

Como prova da asserção anterior, veja esta seção de um mapa da África de 1808: 

Mapa de 1808. Ilha Comora. A cidade Moroni ja existia, apesar de tornar-se capital da ilha apenas em 1876.

Localização das ilhas Comores - entre 'Africa e Madagascar.



Agora um mapa atual:

Mudança para Ilha Comores - na seta: Capital Moroni.


Tambem tem sido sugerido que "Camora", na versão de 1830 do LdM, seja simplesmente um erro de ortografia, causada pela mais que imperfeita caligrafia de Oliver Cowdery. 

7) Mar Vermelho

II Néfi 19:1  
 
"Não obstante, o entenebrecimento não será como foi na sua angústia, quando no princípio ele atingiu ligeiramente a terra de Zabulom e a terra de Naftali e depois fez mais seriamente, pelo caminho do Mar Vermelho além do Jordão na Galiléia das nações.(grifo nosso) 
[Nota do Tradutor: a tradução brasileira do Livro de Mórmon, de 1975, diz "pela costa do Mar Vermelho"]
 
Isaías 9:1 
"Não obstante a obscuridade não será como foi na sua angústia, quando ao primeiro ele afligiu ligeiramente a terra de Zebulom e a terra de Naftali e posteriormente enobreceu o caminho do mar, além do Jordão, na Galiléia das nações."

O Livro de Mórmon coloca a referência para "caminho do mar" em Isaías como o Mar Vermelho. Entretanto, tal afirmação está totalmente incorreta.

Durante a Era do Reino (cerca de 1000 a.C.), a terra de Naftali fazia fronteira com o mar da Galiléia para o Oeste. 
A terra de Zabulon fazia fronteira com Naftali no oeste e no sul. 

Foi dentro desta região que encontramos muitas das cidades mencionadas no ministério de Jesus - Cafarnaum, Caná, Genezaré, Betsaida e claro, Galiléia. 

A citação de Isaías então define a área futura do ministério de Jesus.
 
Porém, o Mar Vermelho fica a mais de 402 km ao sul da Galiléia e fica próximo da fronteira egípcia. Não há como Isaías poder ter dito "mar Vermelho".
 
Há muitas provas desta afirmação. 

Primeiro, a citação também menciona que "o mar" está além de Jordão, na Galiléia. O rio Jordão, é claro, deságua no Mar Morto, e nunca chega ao Mar Vermelho. Além disso, o Mar Vermelho de forma alguma está perto da Galiléia.
 
Segundo, este versículo de Isaías foi citado por Mateus em Mt. 4:12-16, especificamente com referência para Galiléia e Cafarnaum. A citação em Mateus também não tem Mar Vermelho.

Há assim muitas provas que a palavra "Vermelho" nunca foi parte de Is. 9:1. Como então, entrou no Livro de Mórmon? 

Pode ser que o versículo tenha sido alterado por um rapaz imaginativo, mas com pouco conhecimento de geografia, como Joseph Smith, quando estava copiando partes de Isaías no Livro de Mórmon?

  Curt van den Heuvel 
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A mensagem acima foi contestada por um mórmon que disse que "caminho do mar", como Isaías a usou, pode ter sido uma referência para o 'mar' Vermelho.
 
Porém, a maioria dos comentaristas parece concordar que a frase "caminho do mar" em Is. 9:1 é uma referência para o Via Maris, uma antiga rota de comércio do Egito para a Mesopotâmia. Já que a Galiléia e Cafarnaum, em particular, estavam nesta rota, esta interpretação parece plausível.
 
A questão é se Is. 9:1 tinha originalmente a frase "caminho do Mar Vermelho". A resposta é não, porque a frase é incorreta. 



Via Maris era chamado de "caminho do mar" porque seguia o litoral palestino, não porque começava no Mar Vermelho. 


Mapa mostrando o Via Maris - em bege.

De fato, se o Via Maris pudesse começar em qualquer lugar, seria a cidade egípcia de On, localizada perto do delta do Nilo. 


De fato, alguns mapas mostram o Via Maris começando no norte de On ao longo do Nilo, seguindo a costa palestina até Zoã. Nunca toca Ácaba, muito menos o Mar Vermelho.


Via Maris, iniciando-se no Egito. Essa via sequer chega ao Mar Vermelho.






3 comentários:

  1. Investigadora,
    Ainda não tive tempo de ler todo o post, mas sobre o lance de "autor e proprietário", a igreja supostamente explica isso alegando que na época tinha que ser feito dessa maneira, o governo, a patente, sei lá, a lei não aceitaria se Joseph Smith dissesse ser apenas o tradutor. Não lembro onde, mas já li sobre isso. Achei que você gostaria de saber.

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  2. The god Slayer

    Obrigada pela explicação, mas para variar, é o que a IGREJA diz. Resta-nos descobrir se esta é a verdadeira explicação, como sempre.

    Um bom ponto para ser pesquisado.

    Abs

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  3. The god Slayer

    Desculpe-me, acidentalmente excluir seu comentario:

    "The god Slayer deixou um novo comentário sobre a sua postagem "alteração versus perfeição":

    Ok, se você tiver como pesquisar isso aí... acho que dá pra pesquisar nos sites de ex-mórmons nos States pra ver se a informação procede.


    Postado por The god Slayer no blog Investigações sobre a Igreja SUD em 3 de julho de 2011 12:11"

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