Escrito por Connell O'Donovan - website em inglês: http://www.connellodonovan.com/
Antes de cada apresentação, o pessoal reunia-se numa sala para oferecer orações de gratidão pelo privilégio de compartilhar cantos de redenção em Sião com tanta gente de todas as partes do mundo.
Eu precisei acreditar desesperadamente que eu tinha encontrado aquela Sião ilusória. Minha própria vida era tempestuosa, com um profundo desânimo, e frequentemente com pensamentos suicida. Em minha simplicidade, não tinha idéia nenhuma das agonias que eu sofreria por causa desta igreja durante a proxima década, nem quão profundamente a falência da igreja em fornecer a Sião prometida influenciaria o restante de minha vida.
Também naquele verão de 1980, eu estava completando um projeto de pesquisa através do Departmento Histórico SUD, sobre "Os Negros e o Sacerdócio".
Durante a pesquisa, eu tive o privilégio de ter nas mãos o manuscrito autobiográfico de Jane Elizabeth Manning James (foto ao lado), uma negra que foi convertida ao mormonismo no estado de Connecticut em 1842, e um ano mais tarde andou a pé descalça desde Nova Yorque até Nauvoo, Illinois, a sede da igreja naquela época.
Durante a pesquisa, eu tive o privilégio de ter nas mãos o manuscrito autobiográfico de Jane Elizabeth Manning James (foto ao lado), uma negra que foi convertida ao mormonismo no estado de Connecticut em 1842, e um ano mais tarde andou a pé descalça desde Nova Yorque até Nauvoo, Illinois, a sede da igreja naquela época.
Ao chegar em Nauvoo, ela encontrou a profeta Joseph Smith, que abraçou-a e disse, resumindo uma passagem do livro do Apocalipse 7:17, "Seja bem vinda a Sião, Jane! Nós enxugamos toda lágrima aqui!".
O relato dela – e especialmente as palavras de Joseph à ela - me aqueceram a alma! Como Jane James, eu era um membro marginalizado da sociedade. Como Jane, no fundo da alma eu busquei aquele lugar de refúgio seguro, aquele espaçao certo de asilo onde eu poderia ser curado e ter todas as lágrimas enxutas. Como Jane acreditou, nenhum valor seria alto demais por aquele lugar.
Quando eu fui ao Brasil para servir como missionário, eu recontei a história de Jane muitas vezes às congregações locais (especialmente ao dar as boas vindas aos membros novos), mas eu sempre terminei aí, com Jane no abraço de Joseph, tendo as lágrimas secadas em Sião.
Mas isso não é tudo do relato dela. Minha propria necessidade de encontrar refúgio no Mórmonismo me deixou cego a certos fatos desagradáveis sobre a vida de Jane. Por exemplo, a razão que Jane andou a pé até Nauvoo foi porque os Mórmons brancos não dariam à ela uma carroça, nem a ajudariam a pagar sua passagem de trem e barco. E quando ela chegou em "Nauvoo a Bela", aquela "Sião no rio Mississippi", ela foi ou rejeitada ou evadida pelos Santos brancos. Finalmente uma pessoa encaminhou-a à casa de Joseph Smith.
Ao conhecer o profeta finalmente, Joseph empregou Jane como criada de casa (quase escrava), e quando Smith foi morto em 1844, Brigham Young então empregou-a como sua criada também. A despeito de seu serviço fiel à igreja e aos presidentes ricos, ela viveu a maior parte de sua vida em pobreza abjeta.
Ela chegou na nova Sião de Utah no meio dos Santos pioneiros em Setembro de 1847, a primera negra livre no território, somente para descobrir que a escravidão ainda era praticada lá. Até mesmo o Apóstolo Mórmon Charles C. Rich possuia negros cativos em Utah, o que deve ser sido uma prova grande de sua fé (como foi da minha quando eu o descobrí).
Muitos anos antes da morte de Jane, ela começou a escrever cartas aos líderes Mórmons (inclusive apóstolos e presidentes), implorando que eles a deixassem entrar no templo de Salt Lake para ser selada à Joseph e Emma Smith como sua filha adotiva; Jane contou que Emma Smith fez este pedido à ela pessoalmente em Nauvoo, mas Jane demorou a responder, e logo depois Joseph foi assassinado.
Ela tinha uma forte fé na religião SUD, pois era vedado aos homens de sangue africano possuirem o sacerdócio Mórmon, era negada a entrada nos templos à Jane James e todos os negros, uma lembrança dolorosa de seu estado inferior na hierarquia eclesiástica Mórmon – na verdade a mesma situação de qualquer criança Mórmon de apenas oito anos.
Mas Jane James era persistente na petição de ser selada á familia Smith. E finalmente, na primavera de 1894, ela recebeu notícias que seria selada a Joseph Smith e sua familia no templo de Salt Lake no dia 18 de maio. Porém, mais uma vez, lhe foi negada a entrada na "casa do Senhor".
Ao invés disso, líderes eclesiásticos tinham providenciado uma branca (Bathsheba W. Smith) para representar a Jane James, porque a mera presença física dessa mulher negra, forte e fiel difamaria a santidade do templo recentemente terminado.
Em seguida, para acrescentar insulto à injúria, em vez de ser selada à Joseph Smith como uma filha, como ela esperava, Jane foi selada pela subsituta à Joseph como sua "Serva" eterna (a única vez na história de mormonismo que este tipo de cerimônia foi realizada entre dono e criado).
As palavras recitadas nesta cerimônia eram que Jane seria "ligada como Serva para a eternidade ao profeta Joseph Smith e desta forma ser ligada a sua familia e ser obediente a ele em todas as coisas no Senhor como Serva fiel".
Em essência, uma escrava eterna, sentenciada a servir um dono branco por toda a eternidade.
Não derrotada por este gesto humilhante, ela continuou exigindo de seus líderes SUD sua permissão para entrar no templo, até sua morte em 1908, com a idade de 95 anos.
Quando eu leio as petições sinceras mas inúteis aos líderes eclesiásticos, eu sei que Sião não tinha secado suas lágrimas como prometido, mas aumentou-as em magnitude. Sião não podia cumprir sua promessa a nós dois, mas de fato piorou a ferida; os que prometeram e professaram Sião amarram-nos com as cadeias de injustíça e depois fazem um desfile de nosso cativeiro.
Isildur - Maceió-AL
ResponderExcluirSerá que existe alguma chance de encontrar esse relato em algum documento mórmon? Pois de tudo que já li aqui, nada mais significativo do que essa história. Estou emocionado com tamanha submissão.
Isildur
ResponderExcluirRetirei essa história dees site:
http://www.afirmacao.org/vozes/ao_tropecar_para_siao.shtml
O autor foi missionário aqui no Brasil.
O website dele em inglês é este: http://www.connellodonovan.com/
e o email para contato: odonovan@ucsc.edu
Boa sorte!
Na minha opinião todo "amor" ensinado por Jesus Cristo ficou bem longe na maneira como esta senhora foi tratada. Imagine o tempo que ela perdeu (uma vida toda) para ser selada depois como SERVA!!! Quanto mais eu pesquiso, mais a verdade aparece, e vejo que minha decisão de sair foi certa...
ResponderExcluirParabéns Investigadora e parabéns ao Sr. O'Donovan pela aula de verdadeira história sobre a seita dos mórmons e sobre o racismo contra uma sra. que tão dedicadamente acreditou inocentemente até o fim de sua vida numa grande mentira e num embusteiro como J. Smith o foi.
ResponderExcluirInfelizmente, os africanos não tem a mínima idéia desta parte da história.
ResponderExcluirA igreja está investindo naquele continente, e seria muito bom que alguém fizesse com que essas histórias chegassem à eles.
E detalhe: a DOUTRINA NÃO MUDOU!
Os que tem pele negra continuam sendo considerados descendentes de Caim e amaldiçoados.
Muito triste a história dela.
ResponderExcluirNo filme "Joseph Smith- A História de Um Profeta" , só mostra ela mais uns 6 negros chegando a Navuoo sendo bem recebidos por Joseph.
mas o final eles não contam.
E a história de de O'Donovan é parecida com muitos.
Injustiça em cima de injustiça.
"O amor não com a injustiça, mas se alegra com a verdade"-1 Coríntios 13:6
Querida Investigadora,
ResponderExcluirNão pretendo me identificar e faço isso por receio de que vejam o que vou falar aqui.
Isso porque sou membro ativo da Igreja.
Sou batizado e desde o inicio de minha conversão fiz como voce: Busquei conhecimento e mais conhecimento.
O problema é que tentaram me freiar quanto a isso. Muitas citações colocadas por você tiradas de " Journal of Discourses" ou " History of the church" são de fato verídicas. Brighan Young foi sim um preconceituoso; Joseph Smith tem um passado que o condena e a história da Igreja é sim repleta de mentiras encobertas embaixo de um tapete extenso.
Me sinto bem indo a Igreja, mas isso pelos membros que fazem com que tenhamos ânimo pra continuar. Membros que são bons e fazem sua contribuição pra que o mundo melhore.
Eles, em todo o caso, são meio que enganados pela astucia dos homens e não devem ser julgados por isso.
Quando penso nessas citações horriveis e tão distantes de serem cristãs, fico pensando: Como é que ainda aguento essas coisas?
Imagine a humilhação que Jane sofreu e mesmo assim prosseguiu. Se existem tres reinos de glória mesmo, Jane sem duvidas está acima, muito acima de Joseph e dos demais que pregaram tantas lagrimas e desolação.
Estive conversando por e-mail com o autor desse post. Ele foi realmente muito cordial e hoje é um homem feliz e sem amarras. Acho que a chave pra felicidade é essa. Se aceitar e deixar o resto acontecer.
Investigadora, você é uma pessoa inteligente e muito coerente em seus textos. Não digo que o que voce coloca é apostasia apenas por eu ser membro, porque isso seria hipocrisia e burrice da minha parte. Fatos não podem ser negados.
Gostaria de saber ( Não se ofenda por favor ) Com quantos anos você se batizou na Igreja e há quanto tempo não é membro mais. Gostaria de conversar mais sobre esse assunto vendo outras perspectivas entende? Odonovan foi um missionário no Brasil e nos deu esse post esclarecedor. Ele tem por volta de 50 anos hoje, mas é uma pessoa feliz e plena, mesmo com suas escolhas. Talvez seja a hora de tirarmos as amarras que nos prendem e olhar para os lados tambem . Tem muita coisa acontecendo que o nosso proprio delirio não nos deixa ver.
É como você disse : " O delirio, torna-se assim, uma escolha".
Um abraço Investigadora e parabéns pela sua inteligencia.
Prezado/a The Life
ResponderExcluirEntendo perfeitamente sua postura e para escrever aqui, não há necessidade alguma de se identificar.
Fiquei impressionada por você ser um dos pouquíssimos mórmons que entendeu o propósito deste blog: nada de ataque contra a igreja, de perseguição, apenas cito a verdade. Quando encontro um texto sem nenhum fundamento que o sustente, simplesmente não o traduzo.
A verdade deve sempre ser dita, e ela SEMPRE é útil, ao contrário do que alguns líderes da igreja insistem em afirmar.
Quanto à sua questão, batizei-me aos 10 anos, fiquei na igreja até os 21, 22 anos (meu afastamento foi gradual) e estou fora da igreja há mais de 12 anos.
Digo que a vida, fora da redoma de vidro, nào é perfeita. Mas antes, era uma ilusão, e ilusões apenas nos trazem decepções. Fico com a realidade, sempre.
Sinta-se à vontade para escrever.
Abs
Investigadora,
ResponderExcluirSou um rapaz de 18 anos. O motivo do meu post anterior é que irei pra missão em alguns meses e as duvidas sobre a História da Igreja estava me aflorando. Não me identifiquei e não saí da Igreja ainda pela pressão da minha familia e das outras pessoas. Tenho medo de que se afastem de mim todos aqueles que eu amo - O que de fato vai acontecer, pois já vi isso várias vezes com muitos membros inativos.
Mas não quero mentir para as pessoas. Como ex-membro, você sabe investigadora as marcas tão doídas que sao deixadas em nós quando descobrimos que algo que parecia tão singelo, puro e verdadeiro se torna apenas algo sem sentido, bem diante dos nossos olhos.
É dificil ver que profetas que eu amava tenham citações tão grotescas e fora de coerência - Com uma dose exagerada de desrespeito ao próximo. E o pior é ver que livros antigos como esse não são traduzidos aqui no Brasil. Imagine o que aconteceria com os membros do Brasil se lessem " Journal Of Discourses " Por Brighan Young? Tenho certeza que o numero ia baixar gradualmente.
The Life
ResponderExcluirEspero que você tenha coragem de dizer "não" para a missão. Serão dois anos disperdiçados de sua vida, pregando algo que você nào acredita, vivendo apenas para agradar aos outros. Vale a pena?
Pense bem. Pense que sua liberdade pode ser dolorida agora, mas será leve para o resto de sua vida.
Fique em paz
Abs